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Lançar um olhar genuíno
sobre os espaços nunca vistos das cidades foi a forma
de trazer à tona os pontos cegos do Brasil e da África
do Sul, países que têm em comum um histórico
de colonização e desigualdade social. Para chegar
o mais próximo possível de uma contemplação
limpa e livre de idéias preconcebidas, artistas de
Belo Horizonte e Durban fizeram um "intercâmbio
de olhares", criando assim novos focos.
A "materialização" dos olhares do
brasileiro Ceia (Centro de Experimentação e
Informação de Arte) e do sul-africano Pulse
-que se autodefinem grupos de "resistência artística"
(ambos ligados à Rain, uma rede internacional de iniciativas
artísticas)- poderá ser conferida em uma mostra
de videoarte exibida entre hoje e sexta no Sesc Pinheiros.
"Quando moramos num lugar, passamos diariamente pelos
mesmos espaços e não enxergamos ou não
queremos mais ver. Quem vêm de fora pode notar mais
coisas por não estar "viciado", por não
ter um compromisso social no país. Os problemas culturais
e sociais fazem a gente virar de costas", diz o artista
plástico Marco Paulo Rolla, 37, idealizador ao lado
do sul-africano Greg Streak do Espaços Cegos -financiado
pela fundação holandesa Stichting Doen e pelo
Ministério das Relações Exteriores da
Holanda.
Na primeira fase do projeto, Joacélio Batista, Pablo
Lobato e Marcos Hill foram para Durban. Depois, vieram para
cá Greg Streak, Doung Jahangeer e Alexander Wafer.
Os grupos tiveram o respaldo de uma terceira cultura por meio
de dois artistas: a libanesa Nesrine Khodr auxiliou os brasileiros,
e o inglês Owen Oppenheimer, os sul-africanos.
Com os trabalhos ainda em fase de finalização,
o Sesc mostrará uma parcial da produção
e dará espaço para a troca cultural entre artistas
e o público. "É para o iniciado, que de
alguma forma já conhece elementos da arte contemporânea,
e principalmente para atrair pessoas que possam se sentir
instigadas", explica a gerente-adjunta do Sesc Pinheiros,
Denise Lacroix, 40.
Entre os vídeos exibidos, há um que capta o
cotidiano dos moradores de Durban por meio de auto-retratos
e outro que descreve a realidade social ao mostrar banheiros
masculinos públicos e privados da cidade sul-africana.
Serviço:
Espaços Cegos.
Onde: Sesc Pinheiros Rua: . Paes Leme, 195,
tel. 3095-9400
Encontro entre os artistas e o público:
hoje, às 19h; amanhã, às 20h;
Mostra de vídeos: hoje, das 19h às
22h; amanhã, das 13h às 22h; dia 25, das 13h
às 22h.
Quanto: grátis.
JANAINA FIDALGO
da Folha de S. Paulo
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