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A prefeitura deu início
ontem à retirada das árvores apontadas pelo
IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) como exemplares
que correm alto risco de queda. Foram arrancadas dez árvores,
a maioria tipuanas, todas localizadas em Pinheiros, na zona
oeste de São Paulo. Segundo a prefeitura, 30 mudas
foram plantadas em áreas próximas às
árvores arrancadas para compensar o impacto ambiental
gerado pelos cortes.
O estudo prevê a retirada imediata de outras 439 árvores
da cidade. Segundo o secretário das Subprefeituras,
Walter Feldman, os cortes devem ser realizados nos próximos
40 dias. Para isso, a prefeitura está buscando parcerias
com a Eletropaulo e a Associação Brasileira
de Papel e Celulose. "Mobilizamos nossas equipes, e a
idéia é ir contando em um ritmo cada vez mais
acelerado", disse.
Já o secretário do Verde e do Meio Ambiente,
Eduardo Jorge, prefere não falar em prazos. "Algumas
estão sob recurso, ainda estamos discutindo com os
moradores o que fazer com cerca de 200 árvores."
Segundo ele, todos os cortes realizados ontem foram autorizados
pela Saap (Sociedade Amigos do Alto de Pinheiros).
Ainda assim, a ação foi questionada ontem por
moradores da rua Almeida Garret, onde uma das tipuanas (que
chegam a formar um túnel verde na via) foi cortada
pela prefeitura.
"Decidi morar aqui só por causa das árvores,
antes mesmo de ver como era a casa. Sou uma caipira urbana,
adorava acordar e ver essa árvore na frente da minha
janela. Agora eles vão arrancá-la", reclamava
a tradutora Suely Pfeferman, 42, enquanto 11 homens puxavam
com uma corda o tronco da tipuana. Embora já mutilada
por uma motosserra, sem os galhos e com parte das raízes
cortadas, a árvore resistia. Até que, num puxão
mais forte, caiu com estrondo sobre a calçada. "Ela
já tinha mais de 60 anos. É uma pena",
disse o engenheiro Nelson Kagan, 44, que assistia à
cena.
Representante da associação de moradores da
rua, o engenheiro José Roberto Dias, 58, pretende evitar
o corte das outras cinco árvores da via apontadas no
relatório. "O prejuízo para a comunidade
é muito grande. Estamos dispostos a cuidar delas, tratar.
Nosso interesse é que todos os recursos sejam usados
e só depois seja adotada a solução mais
drástica", disse Dias, que também é
membro da Saap. A reportagem não conseguiu falar com
a diretoria da associação ontem.
O estudo do IPT foi realizado em cinco subprefeituras: Sé,
Pinheiros, Vila Mariana, Santo Amaro e Lapa. Essas regiões
foram escolhidas com base no histórico de quedas de
árvores na cidade. Ao todo, o instituto identificou
915 árvores que correm risco de cair nos próximos
dois anos.
A avenida Dr. Arnaldo e a rua Bela Cintra são as vias
que concentram o maior número de árvores com
alto risco de queda: 22 e 19, respectivamente. A maior parte
das árvores ameaçadas é da espécie
tipuana -originária da Argentina e muito utilizada
nos loteamentos feitos em São Paulo pela Companhia
City. O problema é que elas são muito vulneráveis
à ação de cupins. Por isso, a prefeitura
está substituindo as tipuanas cortadas por ipês,
o que, a longo prazo, deve dar uma nova cara a várias
ruas de São Paulo.
AMARÍLIS LAGE
da Folha de S. Paulo
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