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"Aqui é tudo tão
bonitinho que nem dá para acreditar". Assim a
manicure Cíntia dos Santos de Jesus, de 20 anos, reagiu
ao ver a primeira casa própria de sua família.
Ela, a mãe Luceni, e os irmãos Fernanda e Luiz
Henrique vivem em uma recém-inaugurada Cohab no Ipiranga,
que foge ao padrão das moradias populares.
O projeto arquitetônico transformou em uma charmosa
vilinha, batizada de Conjunto Residencial Pedro Facchini,
o cortiço onde antes se amontoavam oito barracos. Com
fachadas vermelhas e varandas triangulares, foram construídos
12 apartamentos - 8 serão ocupados pelas famílias
que moravam na favela e outros quatro por quem estava na fila
da Cohab, como a mãe de Cíntia.
No térreo, há apartamentos
de um dormitório com 35 metros quadrados. Em cima,
há os dúplex de 43 m2, com escada interna. As
escadas que dão acesso aos dúplex são
externas - solução para eliminar os caros corredores
internos.
A vilinha foi idealizada porque não
seria possível construir um prédio no local,
disse o arquiteto Marcelo Barbosa, que criou o projeto com
o colega Jupira Corbucci. A lei manda deixar um recuo de 3
metros de cada lado para construir um prédio. O terreno
tem 7 metros de frente por 40 de profundidade. "O jeito
foi fazer como se fosse um sobrado, para poder deixar recuo
apenas de um lado", afirmou Barbosa. A obra levou sete
meses para ser concluída e custou R$ 560 mil. "O
melhor é que esse tipo de projeto resgata a individualidade
e dá auto-estima aos moradores", disse.
Origem
A idéia de fazer Cohabs diferentes veio com
o Programa Morar no Centro, explicou a arquiteta Tereza Herling,
superintendente de projetos da Cohab na gestão passada.
"A intenção era fixar pessoas que já
moram no centro e trazer outras pessoas para mais perto. Ali,
os terrenos são diferentes, exigem soluções
mais criativas para aproveitar melhor o espaço."
Segundo a arquiteta, na gestão Marta Suplicy foram
aprovados cerca de 20 projetos diferenciados de habitações
populares no centro - cinco foram entregues, alguns estão
começados e outros ainda não saíram do
papel.
Os dois primeiros projetos diferentes
foram entregues pela Prefeitura em julho, ainda inacabados.
O Parque do Gato, no Bom Retiro, tem prédios de cinco
andares. No local, antes havia a Favela do Gato e o Conjunto
Habitacional Olarias, no Pari, tem prédios que ocupam
a borda do terreno e deixam o miolo da área livre.
A mãe de Cíntia se cadastrou
para esperar a casa própria há dez anos e esperava
ansiosa o dia de parar de pagar aluguel. "Mas quando
ela disse que era Cohab, aquela coisa quadradona, nem me animei.
Não vim aqui ver as obras porque tinha certeza de que
era horrível", contou a manicure. No dia da entrega
das chaves, contudo, se surpreendeu: "Tem certeza que
é aqui mesmo, mãe?"
Sensação parecida
teve a aposentada Maria Piedade Nascimento, de 60 anos, vizinha
de Cíntia. "Morava num quarto e cozinha alugado,
pequeno e úmido. Aqui deram para mim e eu vou pagando
sossegada." Com seu salário mínimo, ela
dará R$ 97 para quitar a casa. Antes, pagava R$ 150
pelo quartinho. "É a coisa que me deixou mais
feliz nos meus 60 anos. Dependendo da idade, a pessoa não
pode receber notícia muito boa."
LAURA DINIZ
do jornal O Estado de S.Paulo |