Uniformizados com calças
camufladas pretas, brancas e cinzas, usando coturnos, bonés
e camiseta branca com a estampa "Pop Combat", 20
homens estão distribuídos nas ruas Conselheiro
Crispiniano, 24 de Maio e Dom José de Barros, no centro
de São Paulo, para fazer a segurança de camelôs.
A idéia surgiu dos camelôs
que reclamavam dos constantes furtos de celulares e bolsas,
o que prejudicava as vendas. A polícia paralela está
nas ruas desde 31 de janeiro. O grupo diz que não anda
armado.
Os "seguranças" fazem
a ronda nas três vias das 8h às 20h. Cerca de
130 ambulantes pagam R$ 10 por semana para o grupo. O objetivo
é expandir os serviços, conquistando também
os lojistas. Segundo Marcelo César Pinheiro, de 33
anos, ex-policial militar e um dos coordenadores do grupo,
a iniciativa surgiu a partir de conversas com os ambulantes
que reclamavam da insegurança.
Para Pinheiro, é um trabalho
comunitário, que deve ser apoiado pelos lojistas. A
experiência foi iniciada no final de 2004, em função
do Natal, só com quatro homens. Como os ambulantes
gostaram do resultado, o trabalho foi retomado e ampliado.
Um camelô de 44 anos, que não quis se identificar,
e há 20 trabalha vendendo mercadorias nas ruas, conta
que optou por pagar os R$ 10 semanais porque estava cansado
de perder clientes devido aos furtos.
"Muitos ficavam com medo e evitavam
passar por aqui. Decidimos nos unir e fazer algo que vem beneficiando
a todos", disse.
Segundo ele, com a nova segurança
também sumiram os "tampeiros" (homens que
organizam jogos de azar usando tampinhas).
Policiais militares e da Guarda Civil
Metropolitana circulam na região e cumprimentam os
"seguranças". Mas, para os camelôs,
o novo grupo é que está resolvendo o problema.
César Lázaro da Silva,
de 28 anos, que também coordena o grupo, não
tem dúvida de que o trabalho vem inibindo furtos e
roubos. Segundo Silva, o dinheiro arrecadado é suficiente
só para comprar uniformes, pagar a alimentação
e o transporte dos 20 homens.
"Por enquanto ninguém
tem salário, por isso buscamos o apoio dos lojistas",
diz.
Silva disse que os homens concluíram
cursos de segurança e não têm antecedentes
criminais.
"Estamos entre amigos. Um indicou
o outro. Muitos já foram seguranças em boates",
afirma.
Para o ex-vendedor de calçados
Flávio Azevedo, 26 anos, que desde o final de janeiro
integra o grupo, o trabalho que vem realizando é positivo
para todos.
"Hoje, recuperamos o celular
de uma moça", contou.
Segundo a Subprefeitura da Sé,
os seguranças contratados pelos camelôs não
têm autorização para trabalhar na rua.
A Subprefeitura informou que "quem exerce atividade em
via pública tem que passar por um processo regular
de licenciamento da autoridade municipal competente. Se isso
não for obedecido torna-se irregular, podendo ser objeto
de fiscalização por parte da Prefeitura".
Ou seja, como os seguranças não têm licença
para trabalhar nas ruas do Centro, são irregulares
e podem ser processados.
Para o major Jorge Luiz Alves, chefe
da seção de comunicação da PM,
o fato de os seguranças usarem roupas camufladas não
é problema.
"O que não pode é
usar insígnias de corporações policiais",
disse.
O major informou que os casos de roubo
na região central vêm caindo ultimamente.
"Mas não podem ser atribuídos
a ações de empresas de segurança e sim
a um esforço global da polícia em toda a cidade",
disse.
Para o presidente da diretoria executiva
da Associação Viva o Centro, Marco Antonio Ramos
de Almeida, a iniciativa é temerária, já
que a segurança do espaço público deve
ser feita pela polícia.
"A melhor alternativa é
retirar camelôs. De onde foram retirados houve redução
de 60% em roubos e furtos. Não que os ambulantes estejam
praticando crimes, mas criam clima de balburdia, facilitando
a ação de trombadinhas", afirma.
Antonio Carlos Siqueira Neves, do
Conselho Comunitário de Segurança da região,
é contra o grupo.
"É um absurdo. Além
de eu continuar vendo assaltos, como os ambulantes que já
são contraventores têm segurança?",
questionou Neves.
LUCIANA ACKERMANN
do Diário de S.Paulo
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