|
A partir do próximo
dia 10, 14 quarteirões da rua Cardeal Arcoverde, em
Pinheiros (zona oeste de São Paulo), se transformarão
no mais novo palco da disputa entre o poder público
e os pichadores da cidade. Ali será implementado o
projeto piloto da prefeitura de combate à pichação.
A medida prevê fiscalização policial,
encaminhamento dos pichadores a delegacias e o ressarcimento,
por parte da família do acusado, da quantia gasta na
limpeza.
Segundo o subprefeito de Pinheiros, Antônio Marsiglia
Netto, a Cardeal Arcoverde foi escolhida por ser uma das "portas
de entrada" da região. O trecho escolhido fica
entre a avenida Dr. Arnaldo e a rua Fradique Coutinho. A meta
é levar o programa às ruas transversais à
medida que os pichadores forem desistindo de pichar a Cardeal
Arcoverde.
A administração municipal, já a partir
dessa data, irá pintar as pichações.
A pintura total do imóvel, porém, ficará
por conta do proprietário. Segundo Marsiglia Netto,
os proprietários já sinalizaram que vão
apoiar a proposta.
Para desestimular a prática, o projeto se apóia
em duas abordagens. A primeira é limpar o local insistentemente.
"Quando ele voltar para pichar novamente, morderá
a isca", afirma o subprefeito, referindo-se à
segunda abordagem: a repressão policial.
Pelo menos quatro carros da Guarda Civil Metropolitana e da
Polícia Militar farão uma ronda em busca de
pichadores na Cardeal Arcoverde. Flagrados, eles serão
levados à delegacia e as famílias serão
chamadas. "Queremos que os pais saibam o que seus filhos
fazem à noite."
Uma equipe de 20 pintores se encarregará da limpeza
dos muros. Inicialmente, o projeto está orçado
em R$ 200 mil por mês. "Até julho poderemos
ver uma mudança", prevê o subprefeito.
Pela lei, a pena para quem for flagrado pichando ou grafitando
uma edificação ou monumento pode chegar a um
ano de detenção, além de multa.
O programa se espelha numa ação antipichação
realizada em São José dos Campos desde 2002.
Lá, cerca de 600 adolescentes foram pegos em flagrante
pichando, dos quais quase 200 já cumpriram uma pena
socioeducativa.
A proposta já recebeu críticas de especialistas
que a consideram autoritária e repressora.
"Não vamos mandar os jovens para a Febem",
responde o subprefeito, acrescentando que estão sendo
feitas parcerias com ONGs para que os pichadores passem a
desenvolver algum trabalho ligado às artes. "Mas
não vamos tolerar a pichação na cidade."
AMARÍLIS LAGE
da Folha de S. Paulo
|