Vanessa Sayuri Nakasato
Há mais de dois meses a Câmara Municipal de
São Paulo não recebe seus funcionários
mais ilustres: os vereadores. O último dia em que se
viu uma sessão na Casa foi no dia 10 de agosto, quando
foram votados 72 projetos de lei – a maioria nomes de
ruas, escolas e homenagens a dezenas de pessoas. A partir
de então, todos os parlamentares se ausentaram para
cuidar de suas campanhas.
Passadas três semanas após as eleições,
os vereadores ainda não voltaram ao trabalho, pois,
agora, dedicam-se em acompanhar os candidatos à prefeitura
José Serra (PSDB) e Marta Suplicy (PT) em seus comícios.
Para a coordenadora geral da organização não-governamental
Movimento Voto Consciente, Rosangela Giembinski, essa situação
é “ridícula e absurda”. “Estamos
indignados e queremos saber se eles vão devolver o
dinheiro que receberam sem terem trabalhado. Os parlamentares
reclamam que não são respeitados pela população,
mas como isso é possível se eles não
se dão o respeito?”, ressalta.
O orçamento da Câmara Municipal, este ano, foi
de R$ 215 milhões. Só os gastos com salários
dos 55 vereadores e gabinetes somam pouco mais de R$ 4 milhões.
Em miúdos, cada parlamentar recebe R$ 7 mil e ainda
possui R$ 68 mil mensais para gastar com seus 17 assessores.
“Isso significa que todos os paulistanos trabalharam
duro para pagar R$ 800 mil, nesses dois meses, a pessoas que
não estão nem um pouco preocupadas com o andamento
da cidade. O fato de grande parte dos eleitores ter votado
“à toa” e eleger quem não devia,
foi apenas resposta ao descaso”, acredita Rosangela.
O presidente da Comissão de Saúde, Promoção
Social e Trabalho da CMSP, vereador Gilberto Natalini (PSDB),
afirma que a repetida falta de quorum tem dificultado a análise
de projetos e o funcionamento da Comissão.
O presidente da Câmara, vereador Arselino Tatto (PT),
lembra que, nas últimas semanas, “tem aparecido
15 ou 16 pessoas”, número insuficiente para abrir
qualquer sessão e, muito menos, votar projetos.
“Infelizmente, não tenho como pegar no pescoço
de cada vereador e levar ao plenário para trabalhar.
Cabe a cada partido orientar e cobrar presença de seus
parlamentares na Casa”, diz.
Apesar das 11 semanas sem sessões, Tatto garante que
os trabalhos não têm sido tão prejudicados
como se parece. Segundo ele, os textos mais importantes do
ano foram discutidos e votados até junho.
“Mesmo assim, lamento esse tipo de comportamento por
parte dos vereadores. Isso é péssimo para a
nossa imagem e da Câmara. Espero que na semana que vem
tudo volte ao normal e que nas próximas eleições
isso não aconteça mais.”
O Movimento Voto Consciente tem ido à Câmara
Municipal, diariamente, desde setembro, para cobrar presença
e desempenho dos parlamentares. Os presidentes de todas as
Comissões e líderes de todos os partidos foram
pressionados, mas não houve resultados. Tatto, que
resumiu isso como “falta de respeito para com o cidadão”,
promete que procurará saber sobre as faltas de cada
um e buscará tomar providências.
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