Pesquisa
mostra que população não conhece o AVC,
doença que no ano passado matou cerca de 30 mil pessoas
no país
Pessoas confundem o acidente vascular cerebral até
mesmo com câncer; desconhecimento prejudica prevenção
e tratamento
Os brasileiros não conhecem a doença que mais
mata no país e mais deixa inválidos permanentes.
Segundo um estudo publicado no início do ano na revista
científica "Stroke", 90% dos brasileiros
dizem não ter nenhum tipo de informação
sobre o AVC (acidente vascular cerebral), o que atrapalha
a prevenção e o tratamento.
Popularmente conhecido por derrame, o tipo mais comum ocorre
quando coágulos entopem vasos que levam sangue à
cabeça e, como conseqüência, danificam partes
do cérebro responsáveis por funções
do corpo como a respiração ou a locomoção.
Segundo dados do Ministério da Saúde, cerca
de 168 mil pessoas foram hospitalizadas no Brasil no ano passado
em decorrência de AVCs. Dessas, perto de 30 mil morreram.
Para o estudo publicado na "Stroke", pesquisadores
entrevistaram 800 pessoas de diferentes níveis sociais
nas ruas de São Paulo, Salvador, Fortaleza e Ribeirão
Preto. Desse grupo, só 15,6% conseguiram dizer o significado
da sigla AVC e 26,5% sabiam que o médico indicado para
tratar a doença é o neurologista.
Confusão
Levam ao AVC problemas como pressão alta, tabagismo,
sedentarismo, obesidade, diabetes, problemas cardíacos,
maus hábitos alimentares, colesterol alto e estresse.
Apesar da lista, 18,5% dos entrevistados não mencionaram
nem mesmo um fator de risco.
A pesquisa mostra que os brasileiros confundem o AVC com problemas
do coração, nervosismo, pressão alta,
epilepsia e até câncer.
Esse foi o caso do funileiro César Marcos Codognotto,
41, que, há três semanas, em Ribeirão
Preto (SP), repentinamente começou a sentir-se mal.
"Começou um formigamento no lado direito do corpo.
Eu não conseguia me locomover. Falei para a minha mulher:
"Vamos para o hospital". Tiveram de me ajudar a
sair do carro. Eu já estava travado", diz.
Eram os sintomas de um AVC, mas Codognotto não imaginava:
pensou ser pressão alta ou ataque do coração.
Segundo o neurologista Octávio Marques Pontes-Neto,
da USP de Ribeirão Preto, um dos autores da pesquisa,
"as seqüelas e as mortes ocorrem justamente porque
as pessoas chegam muito tarde ao hospital".
Dos 800 entrevistados, só um sabia que existe remédio
que pode evitar as seqüelas do AVC. Tal medicamento dissolve
o coágulo que entope o vaso cerebral. Para funcionar,
porém, a droga deve ser dada até três
horas após os primeiros sintomas.
911
Os pesquisadores perguntaram qual é o telefone de emergências
médicas. Apenas 34,6% disseram corretamente os números
nacionais 192 (do Serviço de Atendimento Móvel
de Urgência, o Samu) e 193 (dos bombeiros). O restante
não soube responder ou citou telefones errados, como
o 911 (da polícia dos EUA).
"Até uns 20 anos atrás, o AVC estava estigmatizado
como uma doença sem tratamento. Por causa disso, ficou
negligenciado", diz o neurologista Rubens José
Gagliardi, presidente da Associação Paulista
de Neurologia e membro da Academia Brasileira de Neurologia.
"Hoje sabemos como prevenir e temos como tratar. Para
isso, porém, é fundamental que as pessoas conheçam
a doença."
Ricardo Westin
Folha de S.Paulo
Baixa instrução
resulta em problemas de saúde em 10% das mulheres
O problema de saúde de uma parcela considerável
das mulheres brasileiras é simplesmente a falta de
educação. A 3ª Pesquisa Nacional de Demografia
em Saúde (PNDS), apresentada ontem em Brasília,
mostra que 10% das mulheres brasileiras - cerca de 10 milhões
de pessoas - têm dificuldades de cuidar de si e de seus
filhos e até mesmo ter acesso às políticas
públicas de saúde porque não têm
escolaridade básica. O próprio governo não
sabe como chegar até esse grupo.
O estudo, feito pelo Centro Brasileiro de Análise
e Planejamento (Cebrap) com apoio do Ministério da
Saúde, traz, de um modo geral, boas notícias.
Entre 1996, quando a PNDS anterior foi feita, e esta última,
com dados de 2006, a mortalidade infantil caiu 44%. Apenas
3,6% das mulheres não têm acesso a consultas
pré-natal, e a desnutrição aguda das
crianças está em 1,6%, abaixo do limite de referência
da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Há mais mulheres com acesso a métodos anticoncepcionais
e medicamentos, além de tratamento em hospitais.
No entanto, o grupo daquelas que não conseguiram se
beneficiar do maior acesso à escola, ampliado nos últimos
anos, também ficou de fora dos grandes avanços
da saúde brasileira. Com isso, transmitem os problemas
para seus filhos. As informações são
do jornal.
Lisandra Paraguassú
O Estado de S.Paulo
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