O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva rotulou ontem,
em Santo Domingo (República Dominicana), de "um
bando de covardes" os jornalistas que não defendem
o projeto de lei enviado pelo governo no início do
mês ao Congresso que prevê a criação
do CFJ (Conselho Federal de Jornalismo) e suas seções
estaduais. Para ele, falta "coragem" à categoria.
"Vocês são um bando de covardes mesmo, hein?
Vocês não tiveram coragem de defender o Conselho
Nacional de Jornalista", afirmou o presidente, ontem
à noite, no saguão de entrada do hotel em que
está hospedado.
No momento em que deixava o local para ir a um jantar oferecido
pelo novo presidente do país, Leonel Antonio Fernandez
Reyna, Lula foi em direção a cerca de dez jornalistas
brasileiros, que aguardavam sua saída do hotel. Nem
chegou a ser questionado, indo direto ao assunto.
Primeiro, chamou todos de "covardes". Em seguida,
questionado por uma repórter se os jornalistas teriam
de defender o projeto, Lula afirmou: "É lógico.
Cadê a posição classista de vocês
? (...) Não é uma coisa boa pra vocês?
Não é uma reivindicação histórica
de vocês? Vocês não eram nem nascidos e
já se reivindicava isso".
A Folha, então, o indagou se o projeto é de
interesse dos jornalistas ou do governo . Lula respondeu,
antes de ser cercado por seguranças e deixar o local:
"Pra nós não. Pro governo o que importa
é fazer as coisas que a categoria entender que é
boa para ela".
Na última sexta-feira, em visita ao Paraguai, Lula
afirmou que somente falaria com os jornalistas que o aguardavam
caso eles se posicionassem a favor da criação
do CFJ. "Se vocês começarem a defender o
conselho de imprensa, eu dou [entrevista]."
Ontem pela manhã, na cerimônia de posse de Leonel
Reyna no governo da República Dominicana, Lula ouviu
seu colega defender a liberdade de imprensa.
"Os cidadãos não devem se sentir intimidados
e perseguidos pelo poder, e a imprensa não deve ser
censurada", afirmou Reyna, em discurso no Congresso do
país, diante de oito chefes de Estado da América
do Sul, do Caribe e da América Central.
Segundo o projeto de lei do governo, o Conselho Federal de
Jornalismo irá, entre outras coisas, "orientar,
disciplinar e fiscalizar" o exercício da profissão
e a atividade de jornalismo.
O governo afirma que o envio do projeto ao Congresso não
visa encontrar formas legais para controlar a ação
dos jornalistas, e sim atender a uma antiga reivindicação
da própria categoria. O projeto original é da
Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas).
EDUARDO SCOLESE
da Folha de S.Paulo
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