Em
geral, a imagem do usuário de drogas está associada
a alguém que esconde que faz uso de substâncias
ilícitas ou que está em tratamento para deixar
de usar drogas lícitas ou ilícitas. Para quebrar
essa imagem e discutir novas formas de abordagem do tema,
foi criada neste ano uma rede nacional de usuários
de drogas.
Eles defendem o direito de usar drogas e criticam as linhas
de combate ao problema que apontam, exclusivamente, para o
abandono dessa prática. Acreditam que as políticas
públicas têm que visar também aqueles
que não querem parar, mas que podem, ao menos, reduzir
possíveis danos.
Repórteres do jornal Folha de S.Paulo entrevistaram
o coordenador-geral da rede, Marcílio Cavalcanti, 43.
Ex-empresário que perdeu tudo por causa da bebida,
ele se recuperou e virou ativista de direitos humanos ao fundar
a organização não-governamental Se Liga,
de Pernambuco, entidade que tem o apoio do Ministério
da Saúde e reúne usuários de álcool
e outras drogas do Estado. "Se for usar, não abuse"
é um dos slogans das campanhas da Se Liga.
Quando questionado, é enfático: "Nossa
proposta é ajudar também pessoas que não
querem parar, mas que se dispõem a reduzir os danos
desse uso. Trabalhamos na linha da redução de
danos. Tentamos convencer, por exemplo, um usuário
a não compartilhar uma seringa ou um cachimbo de crack
para evitar contaminação. A abordagem é
feita também com drogas lícitas. Se uma pessoa
bebe uma garrafa de uísque todo dia e não quer
parar, mas dirige sempre embriagada, tentamos convencê-la
a pegar um táxi", argumenta.
Segundo ele, a droga, por si só, não é
boa nem má, depende da relação que o
sujeito estabelece com ela. "Os opiáceos, por
exemplo, são usados como analgésicos ou por
pessoas que querem se entorpecer. É um exemplo de que
uma mesma droga que cura pode se transformar num problema
para o usuário. Acreditamos que é um direito
da pessoa dispor livremente de seu corpo e de sua mente. Eu
posso até alertá-la do risco do uso de uma determinada
droga, mas não cabe a mim julgar o que é melhor
ou não para ela".
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