No
ano 2020, a população brasileira deve ultrapassar
os 209 milhões de habitantes e haverá mais idosos
e menos crianças no país. Para atender à
demanda por ocupação da população
em idade ativa, o país terá que gerar 1,1 milhão
de novos empregos por ano entre 2000 e 2020, totalizando 21,3
milhões de novas vagas em um período de 20 anos.
Essas projeções fazem parte de um estudo promovido
pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada),
órgão do Ministério do Planejamento,
realizado pelos pesquisadores Kaizô Beltrão,
Ana Amélia Camarano e Solange Kanso com base nos dados
do Censo de 2000 do IBGE (Fundação Instituto
Brasileiro de Geografia).
As projeções da pesquisa levam em conta o comportamento
de indicadores de mortalidade e fecundidade nos últimos
anos no país para estimar o tamanho e a distribuição
etária da população no futuro. Elas são
uma importante ferramenta para o planejamento de políticas
públicas adequadas a novos perfis demográficos
da população.
Duas hipóteses
Para o cálculo do tamanho da população
em 2020, os pesquisadores trabalharam com duas hipóteses.
No primeiro cenário, a taxa de fecundidade, que em
2000 estava em 2,4 filhos por mulher, cairia em 2020 para
1,8 filho por mulher na área urbana e para 2,0 entre
os moradores da área rural.
Na segunda hipótese, a taxa de fecundidade cairia
para 1,3 na área urbana e para 1,8 na rural.
A primeira projeção -que utiliza quedas menores
na taxa de fecundidade- estimou em 209,5 milhões o
tamanho da população em 2020. Já a segunda
hipótese projetou uma população de 217,4
milhões, quase oito milhões a mais de brasileiros
do que a estimativa do outro cenário.
Em comum às duas projeções estão
a tendência de aumento da expectativa de vida, a diminuição
do número de crianças até 14 anos e o
aumento de mais de 100% em
20 anos da população com mais de 60 anos de
idade.
Para Camarano, essas projeções não podem
ser classificadas como boas ou ruins em termos de impacto
nas políticas públicas.
"Bom ou ruim é a maneira como a sociedade lida
com isso. Não se pode ter uma visão malthusiana
e colocar a população como problema, apostando
numa política pública e esperando que a população
se adeqüe a ela. O que deve acontecer é o contrário,
ou seja, as políticas públicas se adequarem
à população", afirmou a pesquisadora.
O economista inglês Thomas Malthus (1766-1834) defendia
a teoria de que o crescimento da população sempre
será maior do que a capacidade de produção
dos meios de subsistência humanos. Assim, a fome e a
miséria só poderiam ser reduzidas com a queda
de natalidade.
Novo cenário
A diminuição do número de crianças
e o aumento do número de idosos no país trazem
oportunidades e desafios para as políticas públicas.
No caso das crianças, por exemplo, como haverá
uma diminuição no tamanho da população
com menos de 14 anos, isso pode contribuir para o aumento
do gasto por aluno na educação.
Os autores do estudo alertam, no entanto, para o risco de
a pressão por verbas para a infância diminuir
por causa da redução do tamanho dessa população.
"Ainda não temos cobertura total da educação
em todos os níveis de ensino básico. Além
disso, há ainda um número considerável
de alunos que não conseguem terminar o ensino fundamental.
Mesmo que parasse de nascer criança no Brasil, ainda
teríamos muito a fazer", diz Beltrão.
Ana Amélia Camarano lembra também que a taxa
de fecundidade da mulher brasileira tem caído principalmente
nas classes de maior renda, mas ainda é alta, se comparada
com a dos mais ricos, entre a população de baixo
poder aquisitivo. "São essas crianças mais
pobres que mais utilizam o serviço público de
educação", afirma a pesquisadora.
ANTÔNIO GOIS
da Folha de S.Paulo
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