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01/12/2006
Carta da semana

A ÉPOCA DO SUPER-HOMEM

"Nós nos tornamos super quando vencemos nossos inimigos internos, que são os piores. Quando aprendemos a superar nossos medos, modificar nossos hábitos incorretos e fazer o que precisa ser feito sem deixar para depois.


Estamos vivendo tempos difíceis. Quase todas as pessoas conseguem ter, graças à eficiência dos meios de comunicação, uma visão do mundo como um todo, e não mais aquela visão fragmentada e localizada das gerações que nos antecederam. O mundo transformou-se em uma grande aldeia, onde os acontecimentos de uma região interferem rapidamente na vida das pessoas de outra região, que antigamente parecia distante, e agora foi aproximada pela velocidade da informação.

Há dias em que tudo parece perdido. Guerras iminentes, economia claudicante, terrorismo cada vez mais perto, violência urbana, falta de perspectivas para a juventude, velhice abandonada. Socorro! Chamem o Super Homem!

Essa seria uma maneira simplista de resolver tudo. É só chamar alguém com dotes sobre-humanos, superior a todas essas mazelas do país e do mundo, e ele, com elegância, resolve tudo rápido e deixa todo mundo feliz, enquanto se afasta voando, para algum lugar misterioso, que certamente é muito perto, pois é só chamá-lo de novo e ele se apresentará rapidamente. Afinal, Clark Kent vira Superman em qualquer cabine telefônica.

A angústia humana diante de suas dificuldades justifica o sucesso do personagem, que é apenas um dos super-heróis de plantão, criado em 1933, em plena grande depressão americana, por Jerry Siegel e Joe Shuster. Para resolver aquela crise, só mesmo um homem super poderoso.

Na verdade, a idéia de um super-homem é mais antiga. O grande precursor da idéia foi o filósofo alemão Friedrich Nietzsche, quando, em 1892 lançou o livro Assim Falava Zaratustra. Nessa obra, reescreve as idéias de Zaratustra, também chamado Zoroastro, um profeta do século VI a.C., que teria escrito o código moral, político e religioso dos antigos persas. Parece então que o super-homem de Zaratustra passa por Nietzsche e chega até Siegel e Shuster. Da Pérsia aos Estados Unidos com escala na Alemanha em um parágrafo. Coisas do super-homem!

A idéia de Zaratustra, entretanto, não tinha nada a ver com um homem de músculos de aço. Ele utilizava uma metáfora para que as pessoas comuns chegassem à conclusão de que todos nós somos super em potencial, e que podemos atingir nossa superação máxima. Isso, no entanto, não tem nada a ver com esculpir músculos ou tomar alguma espécie de elixir da inteligência. Nós nos tornamos super quando vencemos nossos inimigos internos, que são os piores. Quando aprendemos a superar nossos medos, modificar nossos hábitos incorretos e fazer o que precisa ser feito sem deixar para depois. As principais características do super-homem de Zaratustra não são a visão de raios X ou a capacidade de voar, mas a vontade e a coragem.

Nietzsche interpreta certo, mas acrescenta sua própria visão, dizendo que isso não é tarefa para todos. Que em sua maioria as pessoas são comandadas pelos sentimentos de medo, rancor, superstições, ciúmes, inveja, o que torna as pessoas presas a uma mentalidade e a um comportamento de escravos. Poucos seriam os eleitos pela natureza ou pela vida para ser Übermensch, a palavra alemã que significa algo como “um humano melhor” e que foi popularizada como “super-homem”.

Nietzsche tinha uma visão negativa da sociedade, que ele dizia estar decadente, e acusava a igreja católica, o liberalismo do comportamento, a burguesia acomodada, os movimentos feministas e a própria democracia, manifestada pelas ações dos sindicatos. De acordo com ele, a única alternativa para salvar a humanidade da decadência total seria o aparecimento de algum Übermensch salvador, que estaria dispensado, inclusive, dos freios morais.

Friedrich Nietzsche nasceu na Alemanha em 1844, foi professor de Filosofia na Universidade da Basiléia, afastou-se em 1879 para dedicar-se a estudar e escrever, foi internado como demente aos quarenta e cinco anos até morrer, dez anos depois. Deixou uma crítica sobre o homem que merece, no mínimo, reflexão. A criatura de Metrópolis tem pouco em comum com os super-homens de Zaratustra e de Nietzsche, mas trata-se de uma figura que nós gostaríamos que existisse. A simples referência a ele já fornece uma espécie de alívio, pois acena com uma possibilidade de salvação mágica, que é o que gostaríamos de encontrar. A reflexão mais importante deveria ser a original. Ele existe sim, e está dentro de cada um de nós. A questão é só achar a oportunidade e a cabine telefônica adequadas!

A idéia do super-homem deu lugar na história a Zaratustra, respeito filosófico a Nietzsche, fama a Siegel e Shuster e muito dinheiro para os marqueteiros da política. A cada um de nós deveria dar a certeza de que podemos ser melhores do que somos, e que isso é uma conquista diária. E que não seremos salvos por nenhum super-homem, apenas por nós mesmos!”,
Eugenio Mussak - edgard@ciadainformacao.com.br

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