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21/04/2006
Carta da semana
SAUDOSISMO
“Dizem que todo velho é
saudosista. Se isto é verdade, com meus 80 anos não
posso ser diferente. Certas passagens da vida nunca esquecemos
e até gostaríamos que tudo pudesse voltar no
tempo para que outros jovens também conseguissem desfrutar
daquele privilégio que tive por volta dos anos 38 e
39. Com meus 13 ou 14 anos, nada melhor e mais agradável
do que rodar com uma bicicleta pelas ruas de onde morava,
principalmente na companhia de amigos ou amigas e de meu irmão
mais novo.
Nesta ocasião o campo do "Gessy
Futebol Clube", em frente a minha casa já tinha
sido loteado e assim, nos restava somente passear pelas ruas
sem calçamento e esburacadas. Todos sonhavam com uma
rua ou avenida asfaltada para rodar com mais suavidade e mais
rápido, porém o acesso a elas era difícil,
alem dos riscos que ofereciam. Eu morava no bairro do Belém,
em uma rua que saia da Avenida Celso Garcia. Num certo dia,
passeando com meu irmão "sentado de banda"
no cano superior do quadro da bicicleta, topamos com um outro
jovem ciclista solitário. Fizemos amizade e, como sempre,
a conversa sobre ciclismo nos conduziu ao sonho das ruas asfaltadas.
Disse o nosso novo amigo: "eu ando em asfalto quando
meu pai deixa, vou conversar com ele". No dia seguinte,
uma resposta positiva e a nossa alegria. Onde seria este lugar?
Descemos a rua em que morava até a Avenida Celso Garcia.
Uns 50 metros à esquerda paramos em frente a um portão
com um guarda. Este já conhecia o amigo e nos fez entrar
com as bicicletas. Realmente, eram ruas asfaltadas e arborizadas.
Que maravilha!
Rodando suavemente, tomava conhecimento
daquele local e me surpreendia com os vários bangalôs
que encontrava, talvez 10, e de boa aparência. Ao fundo,
quase às margens do rio Tietê, que era uma beleza,
um campo de futebol bem cuidado estava tomado por dois times
de crianças e adolescentes que disputavam a bola. Um
muro com arame em cima não permitia o acesso ao rio.
Se não me engano cada bangalô abrigava 20 jovens,
tendo um casal como responsável. Rodamos mais um pouco
e encontramos uma grande horta bem cuidada pelos jovens moradores
daquele local. Soube, posteriormente, que era para o consumo
próprio, mas o que não fosse consumido seria
vendido na portaria. Que lugar gostoso, eu exclamava enquanto
imprimia mais velocidade à bicicleta.
Voltamos muitas vezes aquele local,
enquanto o pai do nosso amigo foi diretor da entidade. Que
maravilha era esta? Chamava-se: "Instituto Disciplinar
de Menores". Era realmente uma instituição
respeitada e visitada por muitas autoridades de todo o Brasil.
Foi ali que tive a oportunidade de assistir de perto a visita
do Presidente Getúlio Vargas, desfilando de pé
em seu carro aberto e aplaudido pelo povo. Depois, chamou-se
"Reformatório Modelo" e "Instituto Social
de Menores. Sabem como se chama hoje ? Fundação
estadual do Bem-Estar do Menor, a FEBEM”,
José Themístocles
A. Tartari – adrianastartari@uol.com.br
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