Pode-se não
gostar das idéias do governador do Rio, Sérgio
Cabral, mas não vejo como deixá-lo de considerar
um político corajoso - aliás, dos mais corajosos
que vi nos últimos tempos, por tocar em temas delicados
como aborto e legalização de drogas.
Já disse várias vezes em meus artigos que a
criminalidade tem várias causas e deve ser enfrentada
em múltiplos flancos preventivos e repressivos. É
o que tenho visto funcionar em projetos contra a violência
dentro e fora do Brasil. De Nova York passando por Bogotá
e Medellín, chegando ao Jardim Ângela, na zona
sul de São Paulo.
Nessa complexa ofensiva certamente facilitar que a mulher
possa determinar o tamanho de sua família evitando
filhos indesejados é um, entre tantos, recursos para
reduzir a exclusão --aliás, há vários
estudos mostrando a relação entre planejamento
familiar e crime.
Muita gente séria, contrária ao uso de droga,
vai se convencendo ou suspeitando de que a clandestinidade
acaba agregando violência ao vício, que deveria
ser tratado como uma questão se saúde pública,
não de polícia. E deveríamos tratar os
vendedores de drogas assim como tratamos os vendedores de
cigarro.
Tais discussões são extremamente complexas
e existem argumentos bons de ambos os lados, mas devem estar
em debate -e, devemos reconhecer, Sérgio Cabal ajudou
a trazê-los para a agenda nacional.
Coluna originalmente publicada na
Folha Online, editoria Pensata.
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