O ex-office-boy João da Cruz Filho descobriu que as cédulas
velhas de dinheiro picotadas pelo Banco Central tinham valor.
Resolveu então fazer uma experiência para transformá-las,
de novo, em dinheiro -e está conseguindo.
Os pedacinhos de dinheiro são agora matéria-prima
para a confecção de agendas e cadernos a baixo
custo. "Não há quem não se impressione
com a colagem de fragmentos de dinheiro", orgulha-se.
Antes de virar inventor de papéis reciclados, João
começou como office-boy da editoria de fotografia numa
redação de jornal. "Meu sonho era ser fotógrafo."
O sonho era estimulado pelas fotos que via de Cartier-Bresson
e Sebastião Salgado.
De posse de um câmara, saía pela cidade fotografando
gente pela rua, especialmente crianças. Não
deu certo como fotógrafo profissional, mas a convivência
nas ruas apresentou-lhe um novo ângulo profissional.
Acabou como arte-educador na Febem, onde faltava de tudo,
a começar pelas folhas de papel para as atividades.
Despretensiosamente, ele reaproveitava as folhas já
utilizadas pelo departamento administrativo. Gostou, decidiu
levar a sério estudos sobre reciclagem de papel e fez
disso sua profissão.
Foi chamado para ajudar projetos comunitários que
buscavam fonte de renda na reciclagem de papel para a fabricação
de produtos. Até que soube que o dinheiro destruído
pelo Banco Central ia para o lixo. Daí iniciou pesquisas
para saber como aproveitar aquele material. Surgiu assim uma
linha especial de agendas e cadernos, vendidos pela Reciclar,
uma entidade que atua na comunidade do Jaguaré, na
zona oeste de São Paulo.
No prazer pela invenção, ele está testando
uma idéia ainda mais original: papel que vira planta.
"Estou misturando sementes no papel, que, se colocado
na terra, passa a germinar. O papel se desfaz em três
meses e nasce ali um planta."
Seu maior projeto, porém, é a auto-reciclagem.
Com 36 anos de idade, João fixou como maior meta cursar
engenharia de produção para ampliar suas habilidades.
Mas ele precisa fazer o inverso de sua invenção
com as notas picadas do Banco Central: precisa aprender a
fazer, com o papel, dinheiro de verdade para entrar em uma
boa faculdade.
Coluna originalmente publicada na
Folha de S. Paulo,
na editoria Cotidiano.
|