Numa demonstração
de humildade, o presidente Lula reconheceu, no início
da semana passada, ter errado no programa de geração
de empregos para jovens.
Devido à série de exigências para a concessão
do benefício, imaginadas nos gabinetes oficiais, a
promessa de 250 mil vagas virou pó: ofereceram-se apenas
algumas centenas de empregos.
Na sexta-feira, o governo reduziu as expectativas e anunciou
mudanças no Primeiro Emprego, uma das mais acalentadas
promessas de campanha. Mais uma vez, podem apostar, vão
errar -e, mais uma vez, serão desperdiçados
tempo e dinheiro, além do prestígio do presidente.
O pior é que a solução está bem
diante dos olhos de todos. Nem precisaria inventar nada -muito
menos prometer alistar 100 mil novos recrutas. Bastaria apenas
implementar o que já existe e ainda não funciona
direito.
Uma das razões para o fracasso do Primeiro Emprego
foi a norma de que a empresa, ao receber o benefício
para abrir uma vaga para o jovem, estaria, durante um ano,
impedida de despedir um adulto.
Vamos reconhecer: a exigência faz todo o sentido. É
previsível que empresários embolsassem o benefício
e dispensassem um funcionário mais antigo. Como suprimiu
o requisito da estabilidade, Lula vai ver o que significa
o ditado do cobertor curto. Sai o adulto, entra o jovem.
Com a mudança, talvez os marqueteiros façam
a festa de números e anunciem a "redenção
dos jovens", deixando de lado os que foram para a rua.
Mas, como política pública, o programa continuará
sendo um equívoco.
Quando a economia cresce devagar, não existe boa solução,
mas apenas redução de danos. Pelo menos duas
medidas, já em andamento, ajudariam a reduzir os danos:
estimular a aplicação da Lei da Aprendizagem
e fortalecer o programa Agente Jovem.
A lei determina que grandes e médias empresas contratem
uma cota de jovens de idades entre 14 e 18 anos, obrigatoriamente
matriculados na escola, e ofereça-lhes formação.
Existe uma série de facilidades para os empresários,
a começar do fato de que a contratação
fica por conta de uma entidade educativa, como o Sesi ou o
Senac, e de várias outras organizações
especializadas em formação de jovens.
De acordo com estimativas do Ministério do Trabalho,
se a lei fosse aplicada, seriam criadas, no mínimo
-vou repetir, no mínimo-, 650 mil vagas. Sem contar
que seriam não só empregos mas oportunidades
de aprendizado.
Presidida por Guilherme Afif Domingos, a Associação
Comercial de São Paulo contratou 50 jovens pela Lei
da Aprendizagem. "É inacreditável o crescimento
deles", diz Afif, que, entusiasmado com a experiência,
abriu vagas em sua própria empresa.
Na próxima semana, casos desse tipo serão divulgados
em um dossiê produzido pela Fundação Abrinq,
em parceria com o Instituto Ethos, para tentar sensibilizar
governos e empresários. "É uma solução
simples e barata", assegura Rubens Naves, presidente
da Abrinq.
A Lei da Aprendizagem não pegou ainda somente porque
é desconhecida dos empresários, não existe
fiscalização e não entrou na agenda oficial.
Além dessa lei, há um programa no país,
que anda devagar quase parando, batizado no passado de Agente
Jovem. O adolescente recebe um valor mensal para prestar serviços
comunitários e tem a oportunidade de aprender e desenvolver
o senso de liderança. É uma alternativa para
as regiões mais conflagradas, onde o tráfico
de drogas e as gangues têm enorme poder de sedução.
Iniciativas desse tipo foram testadas em várias partes
do mundo, inclusive no Brasil, e mostram como a integração
do adolescente em sua comunidade tem um extraordinário
efeito sobre sua auto-estima.
O melhor presente de Lula neste Dias das Mães seria
ajudar os filhos a obter um emprego. Não existe fórmula
mágica, mas, se melhorasse o que já existe em
vez em inventar projetos de eficácia duvidosa, ele
estaria dando um passo à frente contra a exclusão
social. Teria menos coisa bombástica a anunciar, mas,
pelo menos, não passaria vexame.
Vale mais entregar apenas uma ambulância nova (ou mesmo
não entregar nenhuma) do que entregar várias
delas usadas como se fossem zero-quilômetro. O abuso
do marketing, como se sabe, tem pernas curtas.
PS - Por falar em marketing, há uma série de
motivos para criticar o governo FHC, mas, como fez o PT em
seu programa de televisão, comparar o aumento de preços
ocorrido durante oito anos com o que se deu durante o período
de apenas um ano de Lula é das manipulações
mais rasteiras que já vi. Ou então desconhecimento
de matemática, hipótese em que, obviamente,
não acredito. Se fizesse tal conta, um estudante da
segunda série do ensino fundamental receberia zero
na prova. Bate, em cinismo, o caso das ambulâncias apresentadas
como novas. Bate também a empulhação
do PSDB e do PFL, que pedem um salário mínimo
maior depois de, durante tanto tempo, justificarem os baixos
reajustes de seu valor.
Esta coluna é publicada originalmente
na Folha de S.Paulo , na editoria Cotidiano.
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