A adolescente Rosely Sayão
resolveu estudar psicologia por um motivo inconfessável.
Como não pretendia arrumar marido para sair de casa
e não suportava mais os limites familiares, escolheu
um faculdade que não existisse em Piracicaba (SP),
cidade em que morava. Mudou-se para Campinas, com o pretexto
acadêmico. "Não era uma aluna fácil"
diz Rosely, hoje colunista da Folha de S.Paulo, que chegou
a repetir o ano —uma tragédia em seu rígido
ambiente familiar.
Essa visão marginal, combinada com sua formação
acadêmica, levou-a a trabalhar como psicóloga
educacional, ajudando escolas a repensar as relações
entre pais, alunos e professores.
Na biografia da psicóloga educacional, a mistura da
rebeldia na adolescência com o fato de ser uma aluna
nem sempre aplicada fez com que, no ano passado, entrasse
numa experiência em uma escola pública —aliás,
uma das mais transgressoras experiências da rede pública
de São Paulo. "Não é só uma
escola, mas um laboratório."
Rosely foi chamada para assessorar a Escola Municipal Desembargador
Amorim Lima, onde salas de aula foram destruídas e
substituídas por salões multidisciplinares.
O papel do professor é, em essência, orientar
pesquisas. Os alunos foram divididos em pequenos grupos e
agora circulam em diferentes espaços. O currículo
integra atividades como capoeira, educação ambiental
e jogos cooperativos, que viraram eixo para as demais matérias,
como língua portuguesa, geografia e história.
Ao romper a modorra numa escola pública, em que as
modificações pedagógicas são,
em geral, mais complexas e demoradas, aquela —a Amorim
Lima— se tornou um campo de testes para influenciar
os educadores da rede oficial. "O importante é
que, além de a escola ter uma direção
empenhada, os pais são os principais defensores das
inovações."
Já são visíveis os primeiros resultados.
Os alunos demonstram mais interesse e facilidade de aprendizado
—afinal, estudam a partir de provocações
do cotidiano. "Vemos o suposto mau aluno com interesse.
Ele é um desafio, e não um problema."
Possivelmente, era como a rebelde adolescente Rosely gostaria
de ter sido vista.
Esta coluna é publicada originalmente
na Folha Online, na editoria Sinapse.
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