Felippe Naufel é traumatizado
com shopping center. Tinha uma papelaria no Morumbi, ia tudo
bem, até que construíram um shopping que lhe
tirou a freguesia. Foi para Moema, onde, mais uma vez, esse
mesmo tipo de concorrência o levou a transferir sua
loja. Instalado na Joaquim Floriano, no Itaim Bibi, ouviu
rumores de que talvez um shopping viesse a ser erguido nas
redondezas. Preferiu, então, não mais se mudar.
Mudou a rua.
Presidente da associação de comerciantes da
João Cachoeira, Naufel lançou uma ofensiva preventiva.
"Em nossas pesquisas, os clientes diziam que se incomodavam
com a situação das calçadas, da iluminação,
da segurança. E, por isso, se sentiam atraídos
pelos shoppings."
Os comerciantes fizeram, no ano passado, uma "vaquinha"
e, com a ajuda da prefeitura, alargaram as calçadas,
criaram acesso para os deficientes, enterraram parte da fiação
debaixo da terra, montaram um sistema unificado de segurança.
Nos canteiros, plantaram-se pitangas e resedás.
O resultado foi rápido: um aumento de 11% nas vendas
no último trimestre em comparação com
o mesmo período do ano anterior. "Viramos um modelo",
orgulha-se. De fato, vários comerciantes da cidade
estão acompanhando de perto o que acontece ali e buscam
parcerias para melhorar suas ruas e garantir clientes.
Já neste ano, devem estar concluídas as reformas
da 25 de Março, no centro, da Normandia, em Moema,
e da São Caetano (a rua das noivas), também
no centro, na Luz.
Desta vez não por causa de um shopping, Naufel viu-se,
neste mês, obrigado a mudar de local de trabalho. Sua
experiência fez com que ele fosse convidado pela prefeitura
para ajudar a revitalizar outras ruas comerciais da cidade.
A lista de interessadas engloba José Paulino, Augusta
e Oscar Freire, entre muitas outras ruas comerciais.
"É um bom negócio para todos. Para os lojistas,
que atraem clientes, e para a cidade, que valoriza as suas
ruas, evitando que se deteriorem. Muitos comerciantes perceberam
que, se quiserem ficar com as suas lojas, vão ter de
tratar a rua como se ela fosse deles."
Esta coluna é publicada originalmente
na Folha de São Paulo, na editoria
Cotidiano.
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