Aperta-se
um botão, ao lado da imagem de santa Rita, e ouve-se
uma oração gravada digitalmente
A paróquia Santa Rita de Cássia no Pari, zona
leste, virou um laboratório de tecnologia da informação
graças a uma promessa de um especialista em equipamentos
de som. Os fiéis ganharam inusitadas engenhocas digitais
na forma de velas, oratórios e sinos. "Fui beneficiado
por um milagre", diz João Barassal, devoto de
Santa Rita, a santa das causas impossíveis.
João já tinha 49 anos e sua mulher, 43, e não
conseguiam ter um filho. O casal passou por vários
traumas. Após um tratamento, a mulher de João
conseguiu engravidar, mas, no quinto mês de gestação,
eles perderam o filho. Tentaram mais uma vez a fertilização.
Vieram, então, trigêmeos. Na nona semana de gravidez,
dois fetos se foram -e o médico tinha advertido de
que o terceiro não sobreviveria. João fez a
promessa: "Santa Rita, se você me der esse filho,
vou inovar a sua igreja".
Antes mesmo de ter o seu pedido atendido -a mulher de João
estava ainda no quinto mês de gravidez-, a promessa
começou a ser cumprida. Foi criado um oratório
digital. Aperta-se um botão, ao lado da imagem de santa
Rita, e ouve-se uma oração gravada digitalmente.
Foi apenas uma questão de adaptação tecnológica:
ele já tinha colocado aquele equipamento nos estacionamentos
de shopping centers e nos alertas de dispositivos anti-roubo
de automóveis.
Tanto a devoção a santa Rita como o prazer
pela eletrônica sempre fizeram parte da vida de João
Barassal, cujo apelido, nos tempos da adolescência,
era "Joãosom". Ele fazia bicos preparando
o som e a iluminação de baladas. Era natural
que optasse por estudar engenharia eletrônica, mas não
deu certo. "Tive de trabalhar cedo, deixei a faculdade."
Anos depois, quando voltou a estudar, sua opção
foi o marketing, mas continuava ligado à eletrônica,
produzindo aparelhos digitais. Sua grande frustração
era a falta de filhos, para a qual parecia não haver
tecnologia que servisse. "Só posso atribuir a
santa Rita a vinda de meu filho, depois que os médicos
foram tão pessimistas."
Ao combinar as duas devoções, ele foi reinventando
a igreja. "Fiquei impressionado com a reação
dos religiosos." Algumas senhoras colocam o celular no
alto-falante digital para transmitir a reza a parentes internados
em hospitais. Toca-se numa imagem de Cristo e ouve-se o relato
de uma passagem bíblica. Foi criado até mesmo
um sino digital
-a igreja estava sem sino -, com os mais diferentes tipos
da badalada. Nesse laboratório, levaram-se em consideração
as preocupações ecológicas. Luzes artificiais,
comandadas por um software, reproduzem o movimento e a intensidade
das labaredas de uma vela da cera. "Com isso, evito a
poluição atmosférica."
Há uma possibilidade de que toda essa devoção
tecnológica e religiosa renda, em agosto, frutos terrenos.
Como muitos dos produtos da igreja tiveram aceitação
entre os fiéis, João exibirá suas invenções
em um evento batizado de ExpoCatólica. É um
segmento em que ele jamais pensou atuar. E, mais uma vez,
agradece: "Mais um favor da santa Rita".
Coluna originalmente publicada na
Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.
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