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Os desenhistas José Roberto Maia e Haroldo George
Gepp -mais conhecidos como a inseparável dupla Gepp
e Maia- aceitaram o desafio de guiar por um ano uma expedição
de 1.200 pessoas, a maioria adolescentes de escolas públicas,
pelas regiões leste, oeste, norte e sul da cidade de
São Paulo. De repente, perceberam, surpresos, que estavam
sendo guiados. "Redescobri a cidade", diz Maia.
Famosos, entre outras coisas, pelos
seus bem-humorados mapas da cidade de São Paulo, Gepp
e Maia descobriram, por exemplo, que em um parque da zona
leste japoneses cultivam cerejeiras, reverenciadas anualmente
em uma cerimônia religiosa. Tomaram contato com rituais
indígenas na zona sul e com indivíduos que preservam
animais silvestres nas margens do rio Tietê. Levados
pelas mãos dos adolescentes, ao percorrer favelas na
Vila Maria, na zona norte, depararam-se com cachoeiras. "A
maior surpresa foi ver como os estudantes aprenderam tanto
e em tão pouco tempo", admira-se Gepp.
Em um projeto concebido pelo Sesc
Itaquera, os dois comandaram a tropa de 800 alunos, 200 professores
das mais diferentes matérias, além de monitores,
munidos de câmaras fotográficas. A partir dessas
fotos, iriam fazer uma imensa maquete da cidade, comemorativa
dos 450 anos. "Tinha medo de que tocaríamos um
projeto com estudantes e professores desmotivados", conta
Maia.
O resultado da expedição
foi apresentado no último domingo, desfazendo os medos
de fracasso. Tamanho foi o empenho -afinal, professores e
alunos fizeram da cidade uma sala de aula- que a maquete teve
de ser ampliada para 100 m2. É a maior maquete já
feita de São Paulo.
Nem sempre as discussões entre
os estudantes eram tranquilas ou pacíficas. Um dos
meninos responsáveis por fazer o estádio do
Corinthians é palmeirense e quis deixar sua paixão
registrada no território inimigo. Na arquibancada,
no lugar de torcedores, preferiu colocar patos. Cedeu, um
tanto contrariado, aos argumentos do grupo de que aquelas
imagens seriam ofensivas. Admitiu que não queria ser
retaliado por um corintiano que inundasse o Parque Antarctica
com porcos.
Os bichos serviram, porém,
para fazer uma sutil crítica à selvageria paulistana.
No zoológico, há uma peculiaridade -os bichos
estão todos soltos. E os homens e mulheres, enjaulados.
Coluna originalmente
publicada na Folha de S.Paulo, na editoria
Cotidiano.
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