Leandro Magalhães, 15, encontrou
só portas fechadas ao concluir o ensino fundamental. De um
lado, tentou prosseguir nos estudos. "Não sei direito o que
aconteceu, mas a diretora disse que não tinha mais vaga."
De outro, arriscou-se no mercado de trabalho. "Mas dizem que
sou muito novo e sem experiência." Sem estudar ou trabalhar,
seu dia é preenchido pelo skate.
Acorda por volta de meio-dia e vai para o parque da Juventude,
construído no mesmo terreno em que funcionava o presídio do
Carandiru, na zona norte de São Paulo.
Ali, fica até as 21h, só andando de skate e conversando com
amigos, muitos dos quais na mesma situação que a dele.
Leandro não é exceção. Como ele, aproximadamente um quarto
dos jovens das oito principais regiões metropolitanas não
trabalha nem estuda. De acordo com uma pesquisa realizada
pelo Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas)
e pelo instituto Pólis, feita com 8.000 jovens, 27% dos brasileiros
de 15 a 24 anos nessas regiões do país estão sem atividades
profissionais ou educacionais.
Um quadro muito parecido é revelado pela PME (Pesquisa Mensal
de Emprego) do IBGE. Feita em seis regiões metropolitanas,
ela indica que em dezembro do ano passado 23% da população
(ou 1,7 milhão de jovens) entre 16 e 24 anos não estudava
nem trabalhava. Desses 1,7 milhão, 1,1 milhão (ou 67%) nem
sequer procurou emprego no mês de referência da pesquisa.
"Muitas vezes, por causa da dificuldade de encontrar uma
vaga, eles desanimam e param de procurar até que a situação
melhore. Muitos podem estar estudando em casa ou fazendo cursos
esporádicos", diz o gerente da PME, Cimar Azeredo Pereira.
Enquanto não estudam nem trabalham, muitos são pressionados.
Leandro, por exemplo, conta que ouve diariamente as queixas
do pai de que precisa de ajuda para manter a casa. "Todo mundo
fala que a gente é vagabundo. Não sei se somos."
Para Eliane Ribeiro, professora da Faculdade de Educação
da Uerj e uma das coordenadoras da pesquisa do Ibase, não
se pode dizer que todos os jovens sem emprego e trabalho sejam
ociosos: "Pode parecer que ficam todos parados na esquina,
sem fazer nada.
Muitos estão procurando emprego ou vinculados a projetos
sociais. Eles não estão nessa situação porque querem. Alguns
saíram da escola porque repetiram várias vezes. Outros tentam
entrar numa universidade ou conseguir um emprego, mas neste
país isso não é tão simples". Após fazer a pesquisa com 8.000
jovens, o Ibase coordenou também grupos de discussão com 900
adolescentes. Patrícia Lânes, pesquisadora do instituto, conta
que uma queixa comum foi a restrição do mercado de trabalho.
"Eles dizem que, sem experiência, não conseguem se inserir
no mercado de trabalho. No entanto, sem a inserção, também
nunca terão essa experiência. Muitos reclamaram ainda de preconceito
por causa de sua aparência. Dizem que não conseguiram um emprego
por causa da cor da pele ou porque não usam a roupa ou o cabelo
da moda", afirma Lânes.
A socióloga Helena Abramo, organizadora do livro "Retrato
da Juventude Brasileira", concorda: "O trabalho se tornou
um bem tão escasso que gera uma angústia nesses jovens. As
pesquisas feitas com eles mostram uma preocupação grande de
"sobrarem" no mercado de trabalho".
Mas a preocupação não é só com o mercado. "É preciso avaliar
por que esses jovens não estão na escola. É porque não há
oferta? Faltam vagas noturnas? É preciso uma escola que faça
sentido para esses jovens e que os ajude a entrar no mercado",
afirma ela.
ANTÔNIO GOIS E AMARÍLIS LAGE
da Folha de S.Paulo
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