Versos
de Drummond, Pessoa e Camões começaram ontem a ser espalhados
nas estações do metrô
Carlos Figueiredo estava muito longe de ser um aluno exemplar.
Na marra, concluiu o supletivo, então chamado de madureza,
mas não foi nem buscar o diploma. Não se empenhou
em cursar uma faculdade. Agora, aos 65 anos, ele é
autor da maior lousa já produzida, numa cidade brasileira,
para ensinar poesia.
Depois de oito anos de espera -desde que apresentou um o projeto
ao lado do artista plástico Antônio Petikov-,
as poesias começaram ontem a ser espalhadas nas estações.
Calcula-se que, apenas nessa fase inicial, cerca de 400 mil
pessoas estarão de frente a versos de João Cabral
de Melo Neto, Drummond, Camões, Fernando Pessoa.
No próximo ano, com mais espaços ocupados, calcula-se
que sejam atingidos até 5 milhões, já
que as poesias iriam também para as estações
da CPTM.
Figueiredo não se entrosou com a escola. Mas adorava
ler. Gostava especialmente de poesia. "O que confortava
um pouco minha mãe era que eu sempre tinha uma pilha
de livros ao lado da minha cama."
A vida escolar dele era dificultada ainda mais pelo seu prazer
em viajar. Saía de mochila pela América Latina,
Europa e Ásia. Preferia as rotas exóticas pela
Índia, Nepal e Irã.
"Aprender, para mim, significava ler e viajar."
Aos 22 anos, tinha uma agência de publicidade em Belo
Horizonte. Vendeu a pequena empresa de publicidade para bancar
mais viagens feitas à base de carona e mochila. "Gastava
muito pouco."
Como no "Poema de Sete Faces", de Drummond, esse
Carlos também era "gauche na vida" -deslocado.
Vivendo de bicos em trabalhos de comunicação,
tinha um ponto constante em sua vida além das viagens:
as poesias. Num de seus livros, fez a coletânea do que
considerou os cem poemas essenciais da língua portuguesa.
Imaginava os versos, restritos aos poucos livros, espalhados
pelas estações do metrô -para visualizar
essa intervenção, Petikov desenhou o projeto.
Era algo "gauche" em excesso para sensibilizar os
engenheiros do metrô, mais sensíveis a cálculos
matemáticos e obras.
Trecho da coluna Folha de
S. Paulo, editoria Cotidiano.
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