Aquela
sensação de vulnerabilidade diante da metrópole
nunca desapareceu para a atriz Bruna Lombardi
Filha de imigrantes, Bruna Lombardi
tinha oito anos de idade quando veio do Rio, onde morava,
para viver em São Paulo. O contraste entre a alegria
e a descontração de um Rio luminoso que ainda
não conhecia a violência com a falta de horizonte,
a pressa e os congestionamentos de São Paulo produziu
nela uma sensação de anonimato e solidão.
Essas impressões infantis
perdidas na década de 1960 estão por trás
do roteiro do filme "O Signo da Cidade", lançado
nesta semana. A menina estudou jornalismo e propaganda, mas
preferiu a arte. Virou modelo, atriz e escritora. Ficou famosa,
sempre rodeada de gente, mas aquela sensação
de vulnerabilidade diante da metrópole nunca desapareceu.
"Viver em São Paulo sempre foi para mim um aprendizado
da solidão."
Os fragmentos desse aprendizado vão
estar na tela, espalhados entre seres anônimos que tentam
sobreviver emocionalmente na metrópole dura, cuja presença
é tão forte que rege a vida de todos os personagens.
Responsável pelo roteiro, Bruna
também faz o papel central em "O Signo da Cidade".
Vive uma astróloga que tem um programa de rádio
noturno e serve de ponto de encontro entre as várias
histórias de solidão. "Estabelecer laços
afetivos passa a ser uma questão de sobrevivência.
O filme gira em torno da solidariedade e da solidão."
Solidariedade e solidão estão nas histórias
dos pais e avós de Bruna. Todos são de uma Europa
destruída por guerras, provocando milhões de
exílios. Seu pai nasceu em Roma; a mãe, em Istambul;
os avós, na Áustria e na França. Há
uma suspeita de que os avós eram judeus e, com medo
da perseguição, encontraram nova identidade
para sobreviver. "O cosmopolitismo sempre foi parte da
minha vida." Uma diversidade que, segundo ela, a ajudou
a entender São Paulo -uma terra de fugidos, especialmente
da Europa. Sua avó nascida em Istambul falava com fluência
nove línguas.
Mas tanto a sua história familiar como as agonias
da metrópole serviram para que ela aprendesse a ver
as pessoas anônimas que se destacaram por estabelecer
laços de solidariedade. "São os heróis
invisíveis." Invisíveis porque, apesar
de seus gestos, permanecem sempre no anonimato, muito longe
do mundo das celebridades.
Nem remotamente Bruna se encaixa na figura dos anônimos.
Muito pelo contrário. Embora a sua casa oficial fique
em Los Angeles, nos Estados Unidos, a cidade das celebridades,
Bruna nunca desmontou o seu apartamento em São Paulo
nem imaginou que voltaria ao Rio. "Sou, de fato, regida
por São Paulo."
A data do lançamento comercial do filme, na próxima
sexta-feira, coincide com o 454º aniversário da
cidade. Como presente, ela conseguiu que o preço do
ingresso fosse simbólico -o que, em se tratando de
um feriado, vai atrair muitos solitários com as suas
histórias.
Coluna originalmente publicada na
Folha de S. Paulo, na editoria Cotidiano.
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