Há
um mistério no campus da USP --e, por esse mistério,
se vê como é difícil melhorar a educação
pública, mesmo nas situações mais favoráveis.
Seria óbvio que a Escola de Aplicação
da Faculdade de Educação, encravada no campus,
cercada de tantos e tão magníficos recursos,
tivesse um desempenho brilhante se comparada aos demais colégios
da rede estadual. Ainda mais porque boa parte dos alunos daquela
escola são filhos de funcionários e de professores.
Pinçando os números dos IDESP, notei que eles
estão, no ensino médio, em 10º lugar numa
lista apenas da cidade de São Paulo --volto a repetir,
apenas da cidade.
O mistério se agrava porque não é um
problema novo. Já escrevi sobre o péssimo exemplo
que era uma faculdade de educação da mais renomada
universidade do país gerenciar uma escola pública
que não fosse uma das melhores do Brasil, mesmo comparadas
com as privadas. Mesmo entre as públicas, não
é a melhor nem no Estado nem na cidade --e nem na sua
região dentro da cidade, onde é superada por
colégios que não têm a chance de escolher
seus alunos.
Por que, diante da repercussão das notícias
em anos anteriores, não conseguiram fazer um esforço
concentrado? Por que não envolveram outras faculdades
dos campus? Por que não encontraram meios de transformar
os laboratórios da USP em extensão de suas salas?
Por que não envolveram voluntários entre os
universitários?
Se na USP que é USP é assim, imaginem como
estão as faculdades de educação no Brasil
--e como o caminho para um bom ensino público é
mais árduo do que se imagina.
Curioso é que acadêmicos daquela faculdade são
chamados, pela mídia, para fazer críticas sobre
a educação. Por que não começam
a mudar a escola que gerenciam e que deveria servir de um
laboratório para o resto do país? Ou, no mínimo,
para seu bairro.
Como se vê no IDESP, lugares como muito menos recursos
foram muito mais longe.
Coluna originalmente publicada na
Folha Online, editoria Pensata.
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