Não
sou religioso --e, ainda por cima, sou judeu. Talvez não
seja o indivíduo mais recomendado para comentar a decisão
da Igreja Católica de excomungar a mãe da menina
de nove anos em Pernambuco e os médicos que fizeram
o aborto --a menina, de 9 anos, estava grávida do padrasto.
A excomunhão me parece um segundo estupro.
Apesar de discordar, posso entender que a Igreja condene
o aborto. Até, fazendo força, entendo que condenem
um padre, parlamentar do PT, que defendeu o uso da camisinha.
São posições arcaicas e, na minha visão,
prejudiciais à saúde pública, mas se
inserem em princípios.
O que não consigo entender é por que estão
humilhando e fazendo sofrer ainda mais a mãe da menina
grávida, já condenada a um drama familiar --um
sofrimento que se estende para a garota, que fica como filha
de uma excomungada. Quem conhece a religiosidade do interior
do Nordeste sabe o peso disso.
Faltou aí não só bom senso, mas humanidade.
Duvido que essa seja a opinião da maioria dos católicos.
Coluna originalmente publicada na
Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.
|