Estou convencido
de que um dos problemas da cidade de São Paulo, que
completa 453 anos nesta semana, é a falta de gratidão.
Milhões de pessoas, quase todas migrantes ou imigrantes,
além de seus filhos e netos, prosperaram porque tiveram
a possibilidade de viver numa cidade que lhes ofereceu oportunidade.
Descendente de judeus, filho de pai pernambucano e mãe
paraense, sou um desses.
Se ficassem, naqueles tempos, em seu países ou Estados,
muitos deles talvez nem tivessem sobrevivido ou estariam condenados
à miséria.
Vivi em Nova York e vi como seus habitantes desenvolveram
uma relação emocional com a cidade, onde foram
acolhidos, protegidos dos horrores das guerras, da perseguição
e da fome na Europa. Tal apego fez com que Nova York, depois
de passar por um enorme crise, recobrasse as forças
e se recuperasse.
Aqui em São Paulo não vimos isso. Aliás,
o que vimos foi um desinteresse, uma apatia diante da destruição,
uma falta de apego pela cidade, como se estivéssemos
apenas de passagem.
Há várias explicações razoáveis
sobre por que chegamos a esse grau de deterioração.
Uma delas é a falta de gratidão coletiva com
São Paulo, que é não protegida dos incompetentes,
dos corruptos, dos aventureiros e dos especuladores imobiliários
que a governaram. Nem sequer sabemos em quem votamos para
vereador; e, se sabemos, não acompanhamos sua atuação;
e se acompanhamos, nada fazemos nada para enquadrá-lo.
A boa notícia, neste aniversário, é
o crescente número de lideranças que, inconformadas
com a nossa degradação, vão exigindo
uma cidade melhor. Tornou-se, agora, não uma questão
de gratidão, mas de sobrevivência.
Coluna originalmente
publicada na Online , editoria Pensata.
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