Pessoas
saírem dos Jardins para ver o sol nascer no centro
faz parte das mudanças da paisagem humana da região
Cacá Ribeiro está conseguindo atrair jovens
acostumados às sofisticadas casas noturnas da Vila
Olímpia e do Itaim para ver o sol nascer no centro
da cidade. É uma rota bem distante para muitos daqueles
baladeiros que, por terem nascido nos anos 80, quando aquela
área já estava degradada, nem ao menos sabiam
chegar direito à avenida São Luiz, com seus
amplos e elegantes prédios. "Eles ficam deslumbrados,
como se tivessem tomando contato com uma nova fronteira",
afirma Cacá.
Com 44 anos, paulistano, Cacá fez várias experiências
profissionais. Foi bailarino de dança contemporânea,
ator, produtor teatral, estudante de direito e de literatura
inglesa na PUC. Para sobreviver, começou a organizar
festas especialmente para o universo da moda, sempre à
procura de visuais alternativos. "Para muita gente, a
região central tem um ar um tanto exótico."
Mas, para ele, o centro nada tinha de estranho. Nunca saíram
de seus trajetos, muitas vezes feitos a pé, o sanduíche
de pernil do Estadão, o pastel de bacalhau do Mercado
Municipal, o pato com molho de amoras do Le Casserole -e a
paisagem paulistana do alto do edifício Itália
e as lojas da Galeria do Rock. Sabia que causariam impacto
as festas que organizasse em lugares como o abandonado Cine
Marrocos, a vazia Galeria Prestes Maia, o salão com
imenso pé-direito em cima do restaurante Guanabara,
dando vista para as fontes de água do vale do Anhangabaú.
"Era um jeito de sair da mesmice."
Sempre, porém, eram ações episódicas,
como se fossem safáris urbanos -tudo com proteção
policial por todos os lados para não assustar os convidados.
Até que lhe veio a proposta de entrar como sócio
para abrir uma casa noturna. "Não queria mais
um daqueles clubes das regiões mais ricas de São
Paulo." Aceitou desde que pudesse abrir o negócio
no centro. Sabia que estava desocupado o andar, na esquina
da São Luiz com a Consolação, onde funcionava
o disputado restaurante Paddock, fechado com a degradação
da região, que levou muitos de seus clientes aos Jardins.
Em junho passado, nascia o bar-clube Royal, sob a suspeita
de que a clientela mais exigente não desceria até
lá. Não é o que, pelo menos até
agora, está ocorrendo, a julgar pela lotação
da casa. Foi a mesma suspeita, equivocada, quando abriram
o Vegas, casa noturna implantada no meio da zona de prostituição
da rua Augusta. Ou o clube Glória, na rua 13 de Maio,
criado numa antiga igreja.
Pessoas saírem dos Jardins para ver o dia nascer no
centro faz parte das mudanças da paisagem humana da
região, com a abertura de espaços como o centro
cultural Banco do Brasil, a Sala São Paulo e o Museu
da Língua Portuguesa, além da reforma da Pinacoteca
e da Estação Pinacoteca. Nas proximidades do
Royal, apareceram mais dois novos teatros, um deles no Hotel
Jaraguá e, outro, no edifício Itália,
dedicado à dança.
Por causa do movimento do Royal, Cacá Ribeiro está
ajudando voluntariamente a prefeitura a analisar a viabilidade
e, quem sabe, apontar empresários, para recuperar um
marco da boemia, agora abandonado: o bar Riviera.
Iniciativas
que ajudam na recuperação do centro de São
Paulo.
Coluna
originalmente publicada na Folha de S.Paulo,
editoria Cotidiano.
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