O menino Ziraldo Alves Pinto tirava
boas notas na escola em que estudava em Caratinga, no interior
de Minas. "Era o melhor aluno da classe", diz com
uma ponta de orgulho. Mas nem de longe era caxias, desses
que passam as tardes decorando e se esmerando nas lições
de casa. Estava mais para o estilo do "Menino Maluquinho",
personagem que criou. O segredo: "Eu adorava ler, lia
tudo, rigorosamente tudo, o que caía nas minhas mãos".
À paixão pelos livros iniciada na infância
somou-se, na vida adulta do escritor renomado de livros infantis,
a romaria de 24 anos entre professores de todo o país.
Dessa combinação, Ziraldo chegou ao que considera
a receita da escola ideal: "É o lugar em que se
ensina, antes de mais nada, o prazer pela escrita e pela leitura."
Alguém como ele, que faz crianças e jovens
terem o prazer da leitura —e, portanto, pelo aprendizado—,
pode não ser professor nem pedagogo, mas é um
educador. Nessa condição, Ziraldo vem tentando
educar os professores, em palestras e encontros pedagógicos.
"A escola deve ser essencialmente um espaço para
inventividade e experimentações." A química
do aprender, na sua visão, está em misturar
o viver com as letras.
O aprendizado deve estar ligado à vivência e
ao imaginário dos estudantes. Em essência, a
descoberta da vida deve estar associada à descoberta
da literatura e das mais variadas formas de expressão,
a começar da escrita. Isso significa, acrescenta, o
enterro da expressão "leitura obrigatória",
que faz as crianças verem o livro como um fardo.
À medida que domina a leitura, sabendo conectá-la
permanentemente ao seu cotidiano, o estudante, diz Ziraldo,
desenvolverá autonomia de pesquisa e estará
mais habilitado a inventar e experimentar. Estaria aí
o antídoto para enfrentar o excesso de informação
da sociedade, o que exige treino para selecionar e sintetizar.
Como se vê, as lições de Ziraldo vieram
menos da romaria pelas escolas —"É triste
a pressão que sofrem as professoras, verdadeiras heroínas"—
e mais das experimentações do menino em Caratinga,
seduzido pelos livros. "Para mim, a escola era uma festa,
porque vivia no meio dos livros."
Esta coluna é publicada originalmente
na Folha S.Paulo, na editoria Sinapse.
|