Tudo o que for produzido nos próximos
45 dias em um galpão de 1,4 mil metros quadrados à
margem da BR-369, no parque industrial de Marialva (17 km
a leste de Maringá, no Paraná), já tem
comercialização garantida.
O desempenho econômico invejável da Ibicunha
Ltda, que opera em dois turnos em capacidade máxima,
já chamaria a atenção na região
de Maringá se não fossem outros detalhes ainda
mais originais da fábrica, como a matéria-prima
empregada e o produto final.
A Ibicunha produz diariamente 200 telhas com material reciclado,
as chamadas telhas ecológicas, fabricadas com embalagens
que são descartadas nas latas do lixo doméstico.
Para dar conta das encomendas da Telhaço Maringá
(distribuidora que é parceira na comercialização),
a empresa compra todos os meses 130 toneladas (o equivalente
a 10 milhões de embalagens) do plástico com
alumínio que reveste o interior das caixas longa vida
e dos tubos de creme dental. A tonelada custa cerca de R$
60.
O material vem do interior de São Paulo em flocos.
Depois de limpo, é colocado em uma fôrma e prensado
a altas temperaturas. Transformado em uma placa maciça,
é moldado para ganhar as ondas de encaixe ou segue
para outro tipo de acabamento, que transforma as placas em
peças como tapumes, forros e divisórias.
As telhas são as peças mais aceitas pelo mercado,
que só não está mais em expansão
pela dificuldade em se obter a matéria-prima. ''O número
de fábricas poderia ser maior se houvesse a cultura
da reciclagem nas próprias casas, independente de sistemas
de coleta municipais'', aposta Antonio Emiliano Leal da Cunha,
dono da Ibicunha, fundada há 22 meses e que no início
do ano já passou pela primeira expansão. É
a única empresa do interior do Estado que atua no ramo.
O pólo produtor é o interior de São Paulo.
As telhas ecológicas substituem coberturas de aço
galvanizado e telhas de amianto, concorrentes de preço
similar ou superior. A mais clara e cara, baseada no plástico
com alumínio dos tubos de creme dental, custa R$ 22,00,
e a outra, com menos alumínio, custa R$ 20,00 (telhas
de 2,13 metros de cumprimento e 6 milímetros de espessura).
No comércio de Londrina, a telha de amianto (ou de
fibrocimento), custa entre R$ 21 a 22.
E para quem vende o produto não é só
essa a vantagem. ''A adoção da nossa telha faz
com que o cliente economize na obra toda. Como é um
material mais leve, a estrutura de sustentação
pode ser simplificada com o uso de menos madeira e vigas de
concreto'', explica.
Um aspecto que Cunha não se cansa de destacar é
a resistência da telha. Aos interlocutores, ele faz
quase um número performático para comprovar
sua afirmação: arremessa a peça de 12
quilos o mais longe que pode e depois ordena que se pule ''com
vontade'' sobre ela. ''Eu não disse? Isto resiste a
tudo'', conclui.
Um item de conforto também chama a atenção
dos clientes. Construções cobertas com a telha
ecológica retém 25% menos calor que as de fibrocimento
ou de aço galvanizado, segundo pesquisas feitas em
universidades paulistas.
LÚCIO FLÁVIO MOURA
da Folha de Londrina
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