LONDRINA (PR) - Vinte e oito crianças
mas também 28 pequenos cidadãos. Na classe de
4 série do ensino básico da Escola Municipal
Santos Dumont (Zona Oeste de Londrina) educação
se faz brincando. A melhoria geral no aprendizado e no comportamento
aconteceu depois que a professora Mércia Maria Cardoso
Tavares da Silva começou a incentivar os alunos para
que construíssem seus próprios brinquedos a
partir de material reciclado. E muita coisa que iria parar
na lata do lixo hoje é transformada pelas mãos
habilidosas dos pequenos ''fabricantes''.
A idéia de trabalhar com reciclagem de lixo surgiu
em um projeto de extensão que ela frequenta na Universidade
Estadual de Londrina (UEL). Os alunos foram sensibilizados
a usar criatividade para transformar caixas de leite e embalagens
plásticas e de papelão em brinquedo. ''Discuti
a idéia com eles, eles toparam e começaram a
criar'', comemora Mércia. A professora pretende também
reciclar papel, mas para isso pede a doação
de um liquidificador industrial para tritutar o material.
Desde o ano passado, quando o projeto foi colocado em prática,
Mércia conta que os alunos melhoraram o comportamento,
o desempenho escolar e desenvolveram a coordenação
motora e a sensibilidade. ''A produção dos próprios
brinquedos ajudou a diminuir a agressividade e estimulou o
entrosamento em grupo'', observou a educadora. Além
dos ganhos na aprendizagem, a turma também entendeu
brincando, e fazendo seus próprios brinquedos, que
o lixo tem graça mas que pode se transformar em problema
quando não recebe a destinação correta.
Os comentários da professora são confirmados
pelos alunos. A relação de amizade entre eles
é perceptível a olho nu. Tido até bem
pouco tempo como um aluno problemático, Lucas Donato
Muniz, 10 anos, hoje é um dos melhores exemplos da
turma. ''Eu era muito ansioso'', confessa enquanto conclui
um pequeno vaso feito a partir de uma garrafa plástica
de refrigerante. Mas a ansiedade hoje deu lugar aos elogios.
Abraçado a Lucas, um colega de classe diz que ''ele
tirou a maior nota da classe na última prova''. Em
casa, Lucas reparte o que aprende ensinando a irmã
de dois anos.
Num outro canto da sala, um grupo de meninos conclui a confecção
de uma família real inteira rei, rainha e filhos feita
a partir de embalagens de detergentes. A obra é assinada
por Marcos Vinicius Pereira, 11 anos, Andrei Maicon Rosa,
10 anos, Ítalo Lucas Paixão, 10 anos, e Kaio
Henrique Amatuzo, 10 anos. ''Precisa só ter paciência
e imaginação para fazer um brinquedo'', ensinam
os alunos. ''Tudo dá para ser reaproveitado'', completam.
As meninas também não ficam atrás. Mariane
Veríssimo Ferreira, 10 anos, e Nicoli Gonçalves
dos Santos, 11 anos, gostam de fazer jogos. ''É legal
porque tem que raciocinar para poder brincar'', dizem. Como
aprendizes de inventoras, elas e outras colegas descobriram,
por exemplo, que telefone sem fio feito com embalagem plástica
funciona melhor do que os feitos com lata.
Mas as lições não param por aí.
Ontem, os brinquedos dos alunos foram expostos no IV Seminário
de Produção Científica e Projetos Educacionais
dos Professores de Município. E a próxima ''aula''
da turma será de solidariedade: boa parte dos brinquedos
produzidos serão doados para uma creche pública.
LUCIANO AUGUSTO
da Folha de Londrina - PR
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