Quando Sara Muniz Ocanha, 18 anos,
mãe de Gustavo de 1 ano e 8 meses, descobriu que estava
grávida, achou que seu mundo havia desabado. Ela imaginava
que não conseguiria cuidar da criança e, por
isso, passou um bom tempo só chorando. Com o apoio
da mãe, chegou ao Centro Assistencial Cruz de Malta,
associação instalada na zona Sul de São
Paulo, que desenvolve diversos projetos de atendimento à
comunidade local, como as ações voltadas à
saúde da mulher, com o acompanhamento durante o pré-natal
das gestantes.
"Tinha tantos temores e aqui fui percebendo que podia
lidar com tudo isso. Achava que todo mundo ia me julgar, porque
era muito jovem, mas ninguém falou nada. E isso faz
muita diferença. Tive um apoio que me deixou muito
tranqüila", conta a jovem. Na instituição,
Sara pôde fazer todos os exames iniciais laboratoriais
importantes na gravidez, alguns ultra-sons, além de
ter o acompanhamento mensal do ginecologista. "Fui me
dedicando ao máximo porque queria aprender para não
falhar em nada. Cada vez que eu vinha na associação
para fazer o ultra-som, junto com o meu namorado, minha mão
ficava até gelada só de imaginar se o bebê
tinha crescido ou não e como estava. Foi muito bom".
Assim como Sara, mais de 70 gestantes são atendidas
por semana na entidade para a realização do
pré-natal. Em parceria com o Laboratório Fleury
são realizados os exames, como o de urina e o de sangue,
para a confirmação da gravidez, e o resultado
é informado pessoalmente à mulher. "É
raro elas ficarem contentes com o resultado positivo. No entanto,
as mais jovens querem estar grávidas, seja por uma
questão cultural, de educação ou para
provar a sua sexualidade. Converso com cada uma para saber
se estava utilizando algum método contraceptivo. Mas
falta muita informação. A maioria não
usa camisinha e quando toma anticoncepcional é totalmente
errado", comenta Marilza Trevisan Maioche, responsável
pelo laboratório. A média é de 12 resultados
positivos para cada 15 testes realizados.
A auxiliar de enfermagem Marlene Delliveneri, que há
20 anos realiza este trabalho na entidade, aponta que esta
taxa é muito alta e que vem aumentando, principalmente,
o número de garotas com menos de 20 anos grávidas.
Normalmente, as jovens vêm acompanhadas das mães,
que também já foram atendidas pela associação.
"Muitas também chegam até nós porque
tiveram problemas com outros postos de saúde ou já
com a gravidez muito adiantada, sem pré-natal. Mas
tentamos recuperar o tempo perdido. Aqui, elas se abrem e
contam tudo o que estão passando e sentindo. Isso é
bom pra elas e também cativa", destaca a profissional.
Paula Rosenberg de Andrade, enfermeira pediatra do Centro,
lembra ainda que a grande maioria das mulheres vem à
instituição desorientada, preocupada e muito
ansiosa. E, por isso, a necessidade de um apoio o quanto antes.
Ela afirma que o acolhimento da instituição
chama a atenção da comunidade, pois, em sua
opinião, muitos profissionais de saúde em outros
locais estão mais preocupados em julgar a atitude destas
mulheres, principalmente as mais jovens, ao invés de
ajudar. "O interessante é que raramente estas
meninas se arrependem da gravidez porque elas resgatam vivências
da infância, e de como foram criadas", comenta
a enfermeira. Sara garante que realmente, apesar das dificuldades,
não dá para se arrepender. "Eu olho para
o Gustavo e penso: como posso me arrepender disso? Claro que
podia ter adiado um pouco".
Após os exames iniciais, as futuras mamães
são encaminhadas para os especialistas da associação.
O trabalho é realizado por quase 100 voluntários,
como médicos, enfermeiros, psicólogos e nutricionistas,
de universidades de São Paulo – como a Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp) e a Universidade São
Camilo, entre outras – que se revezam no atendimento.
Durante o pré-natal, elas recebem todas as orientações
necessárias, sempre acompanhadas pelo mesmo médico
e podem fazer a ultra-sonografia. A associação
é um dos únicos locais da região que
oferece este exame.
Maria da Graça Mendonça, 40 anos, mãe
de quatro filhos e grávida de 3 meses, já fez
o pré-natal de dois filhos na Cruz de Malta e agora
terá o acompanhamento do mesmo ginecologista para o
seu bebê. Ela acredita que isso traz maior confiança
e favorece a relação entre paciente e médico,
devido a um histórico. "Aqui posso tirar minhas
dúvidas. É muito importante saber o que está
acontecendo com a gente e com a criança".
As mulheres participam ainda de palestras com diversos temas.
O enfoque das atividades é diferente a cada trimestre
de gestação. Nos primeiros três meses,
a proposta é mostrar todos os cuidados que a mulher
deve ter com o seu corpo, quais as transformações
que ele sofre e a importância do aleitamento materno.
A partir daí, o foco maior é no bebê,
como os cuidados necessários para a sua chegada. "Isso
porque é nesta fase que a mulher realmente começa
a se dar conta de que vai ser mãe. Enfatizamos muito
também a questão da amamentação
exclusiva até os seis meses, essencial às crianças",
comenta Paula.
As gestantes têm ainda à disposição
atendimento psicológico, dentista e o serviço
social. A assistente social Ornilda Gago explica que o departamento
atua como uma ponte entre os outros atendimentos e procura
dar todo o suporte necessário às gestantes,
como doação do enxoval do bebê, além
do encaminhamento para os hospitais e postos de saúde
que fazem um trabalho mais amplo de planejamento familiar.
Na instituição, há uma farmácia
com amostras grátis de remédios, doados por
indústrias farmacêuticas parceiras.
As futuras mamães recebem a orientação
necessária também para o momento de se dirigirem
ao hospital para terem seus bebês. A recomendação
é que optem pelo parto normal e procurem hospitais
que tenham a preocupação com o parto humanizado,
como o Hospital Amparo Maternal, onde 90% das gestantes da
associação são atendidas. "Procuramos
mostrar os benefícios que este parto traz para a mulher
e também para o bebê. Ela volta a ter uma vida
normal muito mais rápido. Normalmente, as mulheres
só optam pela cesárea porque têm medo",
comenta Paula.
Na opinião de Marlene Rodrigues Barbosa, 37 anos,
mãe de três filhos e grávida de 7 meses,
ter a carteirinha do pré-natal com todos os exames
já realizados facilita muito no momento do parto. "Sem
isso, fica muito difícil explicar como eu ou o meu
nenê estamos. Imagina se tivesse diabetes ou pressão
alta e não fosse identificado por falta desse acompanhamento?
Assim é mais tranqüilo", conta Marlene, que
já teve duas gestações acompanhadas pela
associação.
Mesmo após o parto, as novas mamães continuam
sendo atendidas na entidade, assim como seus bebês.
Até os 3 anos de idade, as crianças são
acompanhadas pelas enfermeiras, que dão todas as orientações
necessárias quanto à higiene, amamentação,
e fazem a pesagem e a vacinação. Segundo a enfermeira
Paula, neste momento, a instituição passa a
trabalhar com a família, para que todos estejam bem
e possam cuidar do bebê. Após este período,
as crianças são encaminhadas para os pediatras
da instituição.
Centro Assistencial Cruz de Malta
Endereço: rua Orlando Murgel, nº 161, Jabaquara,
São Paulo
Telefone: (11) 5581-0944
Site:
www.cruzdemalta.org.br
E-mail: cruzdemalta@amcham.com.br
DANIELE PRÓSPERO
do setor3
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