Qualidade de vida para os Kaingang
da Reserva Apucaraninha, a 80 km do centro de Londrina. Focalizando
essa questão, a Secretaria de Assistência Social,
implantou um programa preventivo para orientar os indígenas
sobre o risco oferecido pelo alcoolismo e as DST/AIDS.
LONDRINA ( PR) - Diminuir o consumo
de bebida alcoólica dentro da aldeia. Essa é
a principal meta para a coordenadora do programa de Intervenção
sobre o Uso de bebidas Alcoólicas e Alcoolismo entre
os Kaingangs, Marlene de Oliveira. Criando formas de intervenção
que associadas a outras atividades ela pretende fortalecer
a identidade dos indígenas.
De acordo com Marlene, reuniões
constantes alertam os kaingangs sobre os cuidados a serem
tomados, em razão do alcoolismo, que atinge consideravelmente
a comunidade. Atualmente 1250 kaingang que vivem na aldeia
sendo duas famílias são do grupo Xokleng que
vieram de Santa Catarina. O fator mais preocupante é
o consumo precoce pelos jovens e crianças, que estão
adquirindo esse hábito, cada vez mais cedo.
Uma escolinha de futebol foi criada
para que os jovens, além de terem uma atividade esportiva
regular, possam estar discutindo juntamente com seu professor
sobre DST/AIDS e gojfa to veme (alcoolismo). “Essa alternativa
garante que o jovem freqüente esse local, pratique seu
esporte, mas que saiam informado sobre o risco de contrair
determinadas doenças”, afirma a antropóloga.
Cartilhas explicativas foram distribuídas
dentro da aldeia mostrando os problemas causados pelo consumo
de bebida alcoólica como cirrose, a hipertensão,
diabetes, depressão e conseqüentemente as DST/AIDS.
As crianças da aldeia fizeram
desenhos durante a oficina de alcoolismo contando como era
o cotidiano de seus ancestrais e como está sendo durante
esses últimos anos. A cartilha contém, ainda,
outros desenhos que advertem sobre os problemas trazidos pelo
álcool como desentendimentos dentro da própria
comunidade.
Para o cacique, Jucelino Jenjery Virgilio,
essa iniciativa está sendo muito importante, pois a
falta de informação é prejudicial. As
discussões se estendem para a sala de aula. A escola
indígena conta com dois professores da própria
comunidade, que são bilíngües, para que
os alunos possam estar aptos a falar as duas línguas:
o kaingang e o português.
Segundo as tradições
indígenas, o consumo de bebida alcoólica era
feito somente durante as festas comemorativas e em memória
de seus mortos denominado kiki koi. Hoje se tornou um hábito.
Antes era o Kiki, que era à base de água, mel
e milho. “Com a chegada dos homens brancos que implantaram
alambiques, eles começaram tomar cachaça”,
desabafa o cacique.
Um agravante resume-se na ida dos
índios para a cidade vender seus cestos e balaios.
Infelizmente, eles trocam seus balaios por garrafas de pinga
e não acabam trazendo dinheiro para suas casas, sem
contar que são desmoralizados.
Um pedaço dos Kaingangs
no centro de Londrina
O Vãre – Centro Cultural Kaingang, foi implantado
em 1999, para oferecer melhores condições de
permanência aos índios por ocasião de
suas vindas para a cidade de Londrina, para a comercialização
de seus produtos artesanais.
O local conta com dois espaços
distintos: um constituído para abrigo temporário,
formado por oito casas com infra-estrutura adequada e outro
destinado a visitação pública, aberto
principalmente às escolas municipais e estaduais, com
mostra de exposições fotográficas, acervos
de livros e textos apresentando aspectos ligados ao cotidiano,
tradição e cultura dos kaingang.
CRISTIANO SILVA
do jornal laboratório Com Texto (da Universidade Norte
do Paraná)
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