O VII Seminário de Educação
de Jovens e Adultos realizado pela Ação Educativa
em São Paulo, entre os dias 14 e 16 de julho, reuniu
dezenas de educadores que tiveram a oportunidade de debater
e conhecer as Múltiplas Linguagens e a Comunicação.
Dentre os participantes, estavam representantes do Mova
(Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos)
de São Paulo. Resgatado na atual gestão municipal,
o Movimento é mantido em coordenação
compartilhada entre a prefeitura de São Paulo e as
organizações sociais. Desta forma, o governo
entra com a formação pedagógica e com
o financiamento das salas e dos profissionais, enquanto a
comunidade entra com o espaço, com os educadores e
com sua proximidade com grupo, fundamental para o funcionamento
do programa.
Milena Mateusi Carmo, presidente e coordenadora do Centro
de Educação e Organização Popular
(CEOP), que mantém salas do Mova na região do
Butantã, zona norte da cidade, explica que a diferença
deste trabalho é justamente o fato dele ter suas origens
em movimentos populares. "Todas as atividades que acontecem
com as entidades tentam incluir os alunos nas decisões",
explica.
Ela conta que as salas de aula são "espaços
de uma educação crítica, onde a alfabetização
é um instrumento para uma leitura de mundo, para discutir
e formar opiniões. Para reivindicar e ser cidadão".
Milena afirma que quem participa do Mova o faz de maneira
política.
Em relação ao conteúdo do seminário,
ela avalia que as questões apresentadas são
debatidas já há muito tempo nas salas. "O
Mova é movimento e reivindica uma autonomia por ser
uma educação contra o ensino tradicional, e
também porque a gente traz os problemas do cotidiano
para serem discutidos em sala de aula", explica.
Para ela, ao fazer isso, os educadores estão trazendo
para as salas de aula questões que são relevantes
para a vida social dos alunos e para sua construção
coletiva. Ela acredita que, de certa forma, essa proposta
de trabalho pode "transformar a sociedade, porque é
um espaço que você tem para você criticar
e pensar sobre a sua vida".
Milena, que dá aula há dois anos, diz que
o público atendido pelo CEOP tem entre 14 e 70 anos
e que essa relação entre gerações
é "extremamente valiosa". "Já
tivemos situações de ter a família inteira
em sala. A mulher, o marido estudando e os filhos lá,
ajudando", lembra.
Sua colega, Vandreá Garcia Rodrigues, há seis
meses no Mova, diz estar engatinhando ainda. Ela conta que
essa é a primeira vez que trabalha com Educação.
Vandréa ainda não tem uma sala só dela.
Por enquanto, dá apoio a outros educadores. Emocionada,
ela afirma ter aprendido muito com os alunos. "Eu mudei
até de carreira. Antes, ia prestar Medicina. Mas as
aulas mudaram a minha vida. Eu tinha todo um projeto de vida
e eu mudei, mas foi por paixão mesmo. Eu finalmente
achei o que eu queria fazer".
Unidocência na Alfabetização
Sérgio Luiz Keller é professor de História
e participa de um projeto de Educação de Jovens
e Adultos na cidade de Gaspar (interior de Santa Catarina).
Ele afirma que no projeto mantido pela Prefeitura os educadores
trabalham muito com a "unidocência", ou seja,
um único educador dá aulas de todas as matérias.
Dessa forma, é mais simples a integração
entre as disciplinas.
Sérgio diz que no pequeno município de 42
mil habitantes há cerca de 3 mil analfabetos, mas que
aproximadamente 1.300 já passaram pelas salas de aula
do programa.
Quanto ao seminário, o professor disse ter ficado
satisfeito em saber que as questões debatidas no evento
já estavam sendo aplicadas nas salas de aula do município
catarinense. "A gente vê que está no caminho".
O educador de arte, música e expressão, Bruno
Fauth, também de Gaspar, disse que o que mais diferencia
a educação tradicional e o letramento é
a questão social. Segundo ele, antes era tudo muito
"normativo". "Hoje a norma vem junto da questão
social. O educador busca o aproveitamento do conhecimento
e não só o tê-lo", afirma.
DANIELA MARQUES
do site setor 3
|