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Terças, quintas e sextas,
é dia de futebol no Parque Rubens Vaz, na Maré,
Zona Norte carioca. Mas só joga quem está na
escola. É assim que, apostando na alternativa do esporte,
as escolinhas de futebol da comunidade funcionam a todo vapor,
movidas apenas pelo empenho dos responsáveis e apoio
de moradores e comerciantes locais. Tanto quanto tirar a garotada
da ociosidade, ainda fica a possibilidade de se ver surgir
um craque como Ronaldinho.
“Queríamos ocupar as crianças que estavam
pelas ruas. Aí um colega de trabalho falou que podíamos
usar o espaço da quadra de esporte no Parque Rubens
Vaz”, fala Vilmar Gomes Crisóstomo, de 39 anos,
mais conhecido como Maga. O projeto, iniciado em 2001, atende
mais de 150 garotos da Nova Holanda, Parque União e
Parque Rubens Vaz. E funcionou sem patrocínio até
hoje – a partir de agosto, a comunidade vai contar com
o projeto do governo do estado "Criança Boa de
Bola Tem que Ser Boa na Escola".
Enquanto isso, os responsáveis pelo projeto driblam
as dificuldades com a ajuda dos moradores. “São
eles que mantêm o projeto vivo. Se precisamos de alguém
para lavar os uniformes, falamos com as mães, se queremos
fazer uma festinha, a quem recorremos? Pedimos contribuições
aos comerciantes, donos de quiosques e até ambulantes.
É um refrigerante aqui, outro ali e assim vai”,
diz Ricardo Ferreira dos Santos, de 38 anos, atual presidente
da associação de moradores do Parque Rubens
Vaz, em frente à quadra de esportes. Mais conhecido
como Robô, Ricardo não hesita em afirmar: “O
projeto tem sido uma maravilha para estas crianças.”
A escolinha já revelou alguns talentos. Maga está
sempre de olho nos garotos que se destacam e os apresenta
nos clubes em que tem seus contatos, como Olaria e Vasco.
É o caso de Davi dos Santos Silva, de 15 anos. “Consegui
o que muitos meninos da minha idade sonham que é disputar
um campeonato pela CBF (Confederação Brasileira
de Futebol)", diz animado. Ele disputou o torneio que
a CBF organiza entre associações de moradores,
jogando pelo time que reuniu garotos do projeto e de outras
comunidades da Maré, em 2001 e 2002. "O incrível
foi que em 2002, a gente perdeu na final de 1x0 para o time
de Vila Isabel”, lamenta o agitado Davi.
Um olheiro que viu a atuação de Davi o chamou
para treinar no Vasco, que é onde ele está atualmente.
“Treinar numa quadra menor como a do Rubens Vaz é
a melhor maneira de pegar agilidade com a bola, porque o espaço
é muito curto”, diz aos mais novos na quadra.
A única coisa que o faz balançar em seguir carreira
com a bola é a grana, que por enquanto é muita
curta e ele ainda não conta com nenhuma ajuda de custo
do clube.
Correndo atrás de escola
Tanto Robô quanto Maga são instrutores
de esportes da Vila Olímpica da Maré, mas dedicam
as horas de folga ao treino da criançada. Principalmente
durante os sete meses em que a vila esteve parada. O incentivo
que eles têm para isso é saber que estão
ajudando a mudar a vida de muitos meninos. Até pela
obrigatoriedade de freqüentar a escola para poder jogar.
“Não adianta ensinar somente a disciplina do
futebol. As crianças também precisam estudar.
Se for preciso, vou pessoalmente matricular os garotos do
projeto que ainda não estejam estudando”, conta
Maga.
Isso, segundo Maga, acontece muito. “É que os
pais trabalham e muitas vezes não têm tempo de
ver colégio para os filhos. Então, falo com
eles e corro atrás. Vou nos colégios ver se
ainda há vagas para as crianças”, explica.
Junto com Maga e Robô, o ex-jogador profissional Edmílson
Justino da Silva, de 20 anos, também integra a “comissão
técnica” do projeto. “A escolinha é
uma oportunidade de tirar as crianças da vida errada
das ruas. Principalmente se elas não estudam e não
têm uma educação”, diz. Ele sabe
por experiência própria. “Eu não
tive apoio, nem a oportunidade que eles estão tendo.
Por isso, acho que devia haver outras escolinhas como essa.
Assim muitas crianças não estariam se perdendo
no mundo”, diz Edmílson, que chegou a jogar no
Nacional Atlético Clube, de São Paulo, e hoje
vende uniformes de times de futebol em Copacabana.
A experiência deles conta muito até na hora
de indicar a prática de outro esporte para os meninos.
No caso de Wallace Ferreira de Oliveira, de 15 anos, houve
uma guinada em suas perspectivas. “Ele chegou aqui decidido
a ser goleiro. Mas, já pensou, um menino de 14 anos,
com 1,90m?! Fiquei tentando convencê-lo a mudar para
o basquete. Quando ele se decidiu, liguei para um amigo do
Olaria e falei dele. Marcamos um teste e não deu outra;
o menino passou e ficou treinando lá. De goleiro de
futebol passou a jogador de basquete. Só ficou por
aqui uns dois meses”, conta sorridente Ricardo.
O pai de Wallace, Waldemir Almeida de Oliveira, de 46 anos,
não podia estar mais orgulhoso. “Gosto de ver
que meu filho está seguindo carreira de atleta. Minha
forma de incentivo é ir a todos os jogos dele, falando
que ele deve se acostumar com qualquer resultado, seja vitória
ou derrota”, diz. Wallace hoje disputa o campeonato
pela Federação Nacional de Basquete. “Ano
que vem, ele deve passar para a categoria infanto-juvenil
e eu espero que ele consiga vaga para ir à Argentina
jogar. A viagem está certa, mas os jogadores não.
Ele está feliz e confiante, assim como eu. O clube
dele atualmente está indo para as quartas-de-final.
Espero que dê tudo certo; e se Deus quiser vai dar”,
anima-se o pai.
"Paitrocínio" e Panelinha
Maga também está para lá de
feliz. Com a parceria com o governo do estado, os meninos
passarão a contar com o kit que inclui uniformes e
material para o time. E os instrutores começarão
a ganhar remuneração de R$ 300 pelo trabalho,
que já faziam de graça. Até o campo já
ganhou uma reforma. "Agora passamos a ter capacidade
de atender mais garotos. Podem participar até 300 meninos",
anima-se.
Tudo isso faz com que Jefferson Moraes de Abreu Fernandes,
de 15 anos, treine com mais empenho. Há três
anos no projeto, ele ainda não conseguiu jogar fora
da comunidade. Nem por isso, desiste. "Quero ser um grande
jogador de futebol, principalmente se for no Flamengo, meu
time do coração”, diz. Ele admite que
chegou atraído pelos jogos, como todos os demais meninos,
mas que os treinos o ajudaram em outras áreas. “Melhorei
no futebol e passei a ter mais disciplina na escola”,
conta.
Perto dali, na Praia de Ramos, o "Criança Hoje,
Cidadão Amanhã" funciona mais ou menos
nas mesmas bases. “O projeto aqui é apoiado pelos
pais das crianças, que às vezes contribuem com
R$ 3, R$ 2 para comprar a bola e qualquer outro material que
os filhos precisem. Vivemos de doações. Uma
drogaria de Ramos, por exemplo, nos cedeu os uniformes”,
diz Antônio Sebastião dos Santos, de 40 anos.
O motivo que levou Antônio a montar a escolinha, há
cinco anos, foi puramente pessoal. “Foi meu filho, que
me pediu para ensiná-lo a jogar bola. Aí foram
aparecendo mais crianças e tudo foi crescendo. Hoje
temos mais de 200 meninos, divididos em chupetinha, de cinco
a sete anos; fraldinhas, de oito a nove; pré-mirim,
de 10 a 11; e mirim, de 12 a 13 anos”, afirma orgulhoso.
No começo, ele começou a levar o filho e os
amigos para jogar na Ilha do Governador. "Vi um outro
time de crianças jogando, falei com o responsável
e marcamos um jogo. Daí tudo foi começando",
lembra. O primeiro jogo de camisas foi comprado com o dinheiro
do próprio Antônio, no verdadeiro espírito
do "paitrocínio". Ele tem certeza de que
valeu a pena. "Ganhamos aquele primeiro jogo de 5 x 3.
No começo a gente chamava o time de Panelinha, porque
era formado só com os amigos do meu filho", explica.
À medida que o projeto foi crescendo, também
foram chegando outros adultos. Hoje, Antônio divide
as responsabilidades com Waldir Paulino, pai de Felipe Batista
Paulino, e outros dois pais. Até as mães fazem
questão de vestir a camisa do projeto. São elas
que organizam o lanche dos meninos para os amistosos e se
tornam as maiores torcedoras.
Os treinos acontecem toda segunda, quarta, sexta e sábado.
“Os garotos chegam aqui e não sabem chutar uma
bola, mas depois de um tempo você vê o garoto
que era tímido correndo e fazendo novos amigos. Criança
tem que ter disciplina e fazer exercício desde cedo,
conviver com outras crianças. Assim, elas crescem sem
menosprezar os coleguinhas, aprendem a trabalhar em grupo
e a ter companheirismo”, explica.
De Ramos para os clubes
Ali, na escolinha de Ramos, sempre há vagas,
sempre cabe mais um. A única regra, para Antônio,
é que a criança precisa vir espontaneamente
e não forçada pelos pais. “Tem que chegar
querendo de fato participar, jogar com as outras crianças.
Não é o pai forçando que ela vai ficar
na escolinha. Foi assim que aconteceu com meu filho e acontece
com a maioria das crianças que vêm para o projeto”,
diz. Ele também faz questão de que os meninos
estudem. E se não chega a matricular ninguém
no colégio, como faz Maga, também se interessa
pelo desempenho escolar dos meninos.
Mais de 200 meninos participam
No esquema da escolinha da Praia de Ramos, sempre
que há jogos fora da comunidade é cada um por
si. “Quando jogamos fora não fretamos ônibus.
Cada garoto vai com seus pais e todos pagam passagens normalmente”,
explica. Em compensação, Antônio é
só alegria ao falar das vitórias dos meninos.
“Em junho, jogamos no clube Jequiá, da Ilha do
Governador, e ganhamos em todas as categorias, o que me fez
ficar bem orgulhoso.”
Sua escolinha ganhou certa notoriedade depois que conseguiu
abrir horizontes para alguns meninos. "Geralmente, quando
nos procuram para amistosos, há interesse por algum
garoto. Agora, por exemplo, tivemos convite do núcleo
do Flamengo para categoria de base, em São João
de Meriti. O jogo também é para observar um
ou outro garoto que se destaque", explica Antônio.
Ele enumera os vários amistosos que seu time já
disputou: "Contra os Meninos da Paz, na Ilha; Florença,
de Vicente de Carvalho; Social Ramos Clube, de Ramos; escolinha
do Bonsucesso; o núcleo do Fluminense, dirigido pelo
ex-jogador Ronald, em Vista Alegre".
Ocasiões como essas serviram para que pelo menos seis
garotos passassem a treinar fora. "Alguns conseguiram
até ajuda de custo, como o Alan, no Madureira, e o
Valdirzinho, no Olaria. Tem ainda o Marcelinho, na Associação
Atlética Banco do Brasil, Lucas e Brando, no Meninos
da Paz, da Ilha. O Douglas Renan e meu filho Ítalo,
pela Associação Atlética da Tijuca, vão
disputar campeonato federado ainda este ano. E tem também
o Cleiton, que vai ser avaliado pelo mesmo time", enumera.
O filho de Antônio, Ítalo Souza dos Santos,
hoje com 12 anos, está tão animado quanto o
pai com crescimento do projeto. "Acho bom, todos os meus
colegas continuam jogando", diz. Torcedor do Flamengo,
ele agora se divide entre os treinos em Ramos e na Associação
Atlética da Tijuca, onde fez teste e passou: "Ainda
não decidi onde vou ficar treinando. Por enquanto jogo
nos dois times".
Opção pela bola
Terças, quintas e sextas, é dia de futebol
no Parque Rubens Vaz, na Maré, Zona Norte carioca. Mas
só joga quem está na escola. É assim que,
apostando na alternativa do esporte, as escolinhas de futebol
da comunidade funcionam a todo vapor, movidas apenas pelo empenho
dos responsáveis e apoio de moradores e comerciantes
locais. Tanto quanto tirar a garotada da ociosidade, ainda fica
a possibilidade de se ver surgir um craque como Ronaldinho.
“Queríamos ocupar as crianças que estavam
pelas ruas. Aí um colega de trabalho falou que podíamos
usar o espaço da quadra de esporte no Parque Rubens
Vaz”, fala Vilmar Gomes Crisóstomo, de 39 anos,
mais conhecido como Maga. O projeto, iniciado em 2001, atende
mais de 150 garotos da Nova Holanda, Parque União e
Parque Rubens Vaz. E funcionou sem patrocínio até
hoje – a partir de agosto, a comunidade vai contar com
o projeto do governo do estado "Criança Boa de
Bola Tem que Ser Boa na Escola".
Enquanto isso, os responsáveis pelo projeto driblam
as dificuldades com a ajuda dos moradores. “São
eles que mantêm o projeto vivo. Se precisamos de alguém
para lavar os uniformes, falamos com as mães, se queremos
fazer uma festinha, a quem recorremos? Pedimos contribuições
aos comerciantes, donos de quiosques e até ambulantes.
É um refrigerante aqui, outro ali e assim vai”,
diz Ricardo Ferreira dos Santos, de 38 anos, atual presidente
da associação de moradores do Parque Rubens
Vaz, em frente à quadra de esportes. Mais conhecido
como Robô, Ricardo não hesita em afirmar: “O
projeto tem sido uma maravilha para estas crianças.”
A escolinha já revelou alguns talentos. Maga está
sempre de olho nos garotos que se destacam e os apresenta
nos clubes em que tem seus contatos, como Olaria e Vasco.
É o caso de Davi dos Santos Silva, de 15 anos. “Consegui
o que muitos meninos da minha idade sonham que é disputar
um campeonato pela CBF (Confederação Brasileira
de Futebol)", diz animado. Ele disputou o torneio que
a CBF organiza entre associações de moradores,
jogando pelo time que reuniu garotos do projeto e de outras
comunidades da Maré, em 2001 e 2002. "O incrível
foi que em 2002, a gente perdeu na final de 1x0 para o time
de Vila Isabel”, lamenta o agitado Davi.
Um olheiro que viu a atuação de Davi o chamou
para treinar no Vasco, que é onde ele está atualmente.
“Treinar numa quadra menor como a do Rubens Vaz é
a melhor maneira de pegar agilidade com a bola, porque o espaço
é muito curto”, diz aos mais novos na quadra.
A única coisa que o faz balançar em seguir carreira
com a bola é a grana, que por enquanto é muita
curta e ele ainda não conta com nenhuma ajuda de custo
do clube.
Correndo atrás de escola
Tanto Robô quanto Maga são instrutores
de esportes da Vila Olímpica da Maré, mas dedicam
as horas de folga ao treino da criançada. Principalmente
durante os sete meses em que a vila esteve parada. O incentivo
que eles têm para isso é saber que estão
ajudando a mudar a vida de muitos meninos. Até pela
obrigatoriedade de freqüentar a escola para poder jogar.
“Não adianta ensinar somente a disciplina do
futebol. As crianças também precisam estudar.
Se for preciso, vou pessoalmente matricular os garotos do
projeto que ainda não estejam estudando”, conta
Maga.
Isso, segundo Maga, acontece muito. “É que os
pais trabalham e muitas vezes não têm tempo de
ver colégio para os filhos. Então, falo com
eles e corro atrás. Vou nos colégios ver se
ainda há vagas para as crianças”, explica.
Junto com Maga e Robô, o ex-jogador profissional Edmílson
Justino da Silva, de 20 anos, também integra a “comissão
técnica” do projeto. “A escolinha é
uma oportunidade de tirar as crianças da vida errada
das ruas. Principalmente se elas não estudam e não
têm uma educação”, diz. Ele sabe
por experiência própria. “Eu não
tive apoio, nem a oportunidade que eles estão tendo.
Por isso, acho que devia haver outras escolinhas como essa.
Assim muitas crianças não estariam se perdendo
no mundo”, diz Edmílson, que chegou a jogar no
Nacional Atlético Clube, de São Paulo, e hoje
vende uniformes de times de futebol em Copacabana.
A experiência deles conta muito até na hora
de indicar a prática de outro esporte para os meninos.
No caso de Wallace Ferreira de Oliveira, de 15 anos, houve
uma guinada em suas perspectivas. “Ele chegou aqui decidido
a ser goleiro. Mas, já pensou, um menino de 14 anos,
com 1,90m?! Fiquei tentando convencê-lo a mudar para
o basquete. Quando ele se decidiu, liguei para um amigo do
Olaria e falei dele. Marcamos um teste e não deu outra;
o menino passou e ficou treinando lá. De goleiro de
futebol passou a jogador de basquete. Só ficou por
aqui uns dois meses”, conta sorridente Ricardo.
O pai de Wallace, Waldemir Almeida de Oliveira, de 46 anos,
não podia estar mais orgulhoso. “Gosto de ver
que meu filho está seguindo carreira de atleta. Minha
forma de incentivo é ir a todos os jogos dele, falando
que ele deve se acostumar com qualquer resultado, seja vitória
ou derrota”, diz. Wallace hoje disputa o campeonato
pela Federação Nacional de Basquete. “Ano
que vem, ele deve passar para a categoria infanto-juvenil
e eu espero que ele consiga vaga para ir à Argentina
jogar. A viagem está certa, mas os jogadores não.
Ele está feliz e confiante, assim como eu. O clube
dele atualmente está indo para as quartas-de-final.
Espero que dê tudo certo; e se Deus quiser vai dar”,
anima-se o pai.
"Paitrocínio" e Panelinha
Maga também está para lá de
feliz. Com a parceria com o governo do estado, os meninos
passarão a contar com o kit que inclui uniformes e
material para o time. E os instrutores começarão
a ganhar remuneração de R$ 300 pelo trabalho,
que já faziam de graça. Até o campo já
ganhou uma reforma. "Agora passamos a ter capacidade
de atender mais garotos. Podem participar até 300 meninos",
anima-se.
Tudo isso faz com que Jefferson Moraes de Abreu Fernandes,
de 15 anos, treine com mais empenho. Há três
anos no projeto, ele ainda não conseguiu jogar fora
da comunidade. Nem por isso, desiste. "Quero ser um grande
jogador de futebol, principalmente se for no Flamengo, meu
time do coração”, diz. Ele admite que
chegou atraído pelos jogos, como todos os demais meninos,
mas que os treinos o ajudaram em outras áreas. “Melhorei
no futebol e passei a ter mais disciplina na escola”,
conta.
Perto dali, na Praia de Ramos, o "Criança Hoje,
Cidadão Amanhã" funciona mais ou menos
nas mesmas bases. “O projeto aqui é apoiado pelos
pais das crianças, que às vezes contribuem com
R$ 3, R$ 2 para comprar a bola e qualquer outro material que
os filhos precisem. Vivemos de doações. Uma
drogaria de Ramos, por exemplo, nos cedeu os uniformes”,
diz Antônio Sebastião dos Santos, de 40 anos.
O motivo que levou Antônio a montar a escolinha, há
cinco anos, foi puramente pessoal. “Foi meu filho, que
me pediu para ensiná-lo a jogar bola. Aí foram
aparecendo mais crianças e tudo foi crescendo. Hoje
temos mais de 200 meninos, divididos em chupetinha, de cinco
a sete anos; fraldinhas, de oito a nove; pré-mirim,
de 10 a 11; e mirim, de 12 a 13 anos”, afirma orgulhoso.
No começo, ele começou a levar o filho e os
amigos para jogar na Ilha do Governador. "Vi um outro
time de crianças jogando, falei com o responsável
e marcamos um jogo. Daí tudo foi começando",
lembra. O primeiro jogo de camisas foi comprado com o dinheiro
do próprio Antônio, no verdadeiro espírito
do "paitrocínio". Ele tem certeza de que
valeu a pena. "Ganhamos aquele primeiro jogo de 5 x 3.
No começo a gente chamava o time de Panelinha, porque
era formado só com os amigos do meu filho", explica.
À medida que o projeto foi crescendo, também
foram chegando outros adultos. Hoje, Antônio divide
as responsabilidades com Waldir Paulino, pai de Felipe Batista
Paulino, e outros dois pais. Até as mães fazem
questão de vestir a camisa do projeto. São elas
que organizam o lanche dos meninos para os amistosos e se
tornam as maiores torcedoras.
Os treinos acontecem toda segunda, quarta, sexta e sábado.
“Os garotos chegam aqui e não sabem chutar uma
bola, mas depois de um tempo você vê o garoto
que era tímido correndo e fazendo novos amigos. Criança
tem que ter disciplina e fazer exercício desde cedo,
conviver com outras crianças. Assim, elas crescem sem
menosprezar os coleguinhas, aprendem a trabalhar em grupo
e a ter companheirismo”, explica.
De Ramos para os clubes
Ali, na escolinha de Ramos, sempre há vagas,
sempre cabe mais um. A única regra, para Antônio,
é que a criança precisa vir espontaneamente
e não forçada pelos pais. “Tem que chegar
querendo de fato participar, jogar com as outras crianças.
Não é o pai forçando que ela vai ficar
na escolinha. Foi assim que aconteceu com meu filho e acontece
com a maioria das crianças que vêm para o projeto”,
diz. Ele também faz questão de que os meninos
estudem. E se não chega a matricular ninguém
no colégio, como faz Maga, também se interessa
pelo desempenho escolar dos meninos.
No esquema da escolinha da Praia de Ramos, sempre que há
jogos fora da comunidade é cada um por si. “Quando
jogamos fora não fretamos ônibus. Cada garoto
vai com seus pais e todos pagam passagens normalmente”,
explica. Em compensação, Antônio é
só alegria ao falar das vitórias dos meninos.
“Em junho, jogamos no clube Jequiá, da Ilha do
Governador, e ganhamos em todas as categorias, o que me fez
ficar bem orgulhoso.”
Sua escolinha ganhou certa notoriedade depois que conseguiu
abrir horizontes para alguns meninos. "Geralmente, quando
nos procuram para amistosos, há interesse por algum
garoto. Agora, por exemplo, tivemos convite do núcleo
do Flamengo para categoria de base, em São João
de Meriti. O jogo também é para observar um
ou outro garoto que se destaque", explica Antônio.
Ele enumera os vários amistosos que seu time já
disputou: "Contra os Meninos da Paz, na Ilha; Florença,
de Vicente de Carvalho; Social Ramos Clube, de Ramos; escolinha
do Bonsucesso; o núcleo do Fluminense, dirigido pelo
ex-jogador Ronald, em Vista Alegre".
Ocasiões como essas serviram para que pelo menos seis
garotos passassem a treinar fora. "Alguns conseguiram
até ajuda de custo, como o Alan, no Madureira, e o
Valdirzinho, no Olaria. Tem ainda o Marcelinho, na Associação
Atlética Banco do Brasil, Lucas e Brando, no Meninos
da Paz, da Ilha. O Douglas Renan e meu filho Ítalo,
pela Associação Atlética da Tijuca, vão
disputar campeonato federado ainda este ano. E tem também
o Cleiton, que vai ser avaliado pelo mesmo time", enumera.
O filho de Antônio, Ítalo Souza dos Santos,
hoje com 12 anos, está tão animado quanto o
pai com crescimento do projeto. "Acho bom, todos os meus
colegas continuam jogando", diz. Torcedor do Flamengo,
ele agora se divide entre os treinos em Ramos e na Associação
Atlética da Tijuca, onde fez teste e passou: "Ainda
não decidi onde vou ficar treinando. Por enquanto jogo
nos dois times".
Ali, na escolinha de Ramos, sempre há vagas, sempre
cabe mais um. A única regra, para Antônio, é
que a criança precisa vir espontaneamente e não
forçada pelos pais. “Tem que chegar querendo
de fato participar, jogar com as outras crianças. Não
é o pai forçando que ela vai ficar na escolinha.
Foi assim que aconteceu com meu filho e acontece com a maioria
das crianças que vêm para o projeto”, diz.
Ele também faz questão de que os meninos estudem.
E se não chega a matricular ninguém no colégio,
como faz Maga, também se interessa pelo desempenho
escolar dos meninos.
No esquema da escolinha da Praia de Ramos, sempre que há
jogos fora da comunidade é cada um por si. “Quando
jogamos fora não fretamos ônibus. Cada garoto
vai com seus pais e todos pagam passagens normalmente”,
explica. Em compensação, Antônio é
só alegria ao falar das vitórias dos meninos.
“Em junho, jogamos no clube Jequiá, da Ilha do
Governador, e ganhamos em todas as categorias, o que me fez
ficar bem orgulhoso.”
Sua escolinha ganhou certa notoriedade depois que conseguiu
abrir horizontes para alguns meninos. "Geralmente, quando
nos procuram para amistosos, há interesse por algum
garoto. Agora, por exemplo, tivemos convite do núcleo
do Flamengo para categoria de base, em São João
de Meriti. O jogo também é para observar um
ou outro garoto que se destaque", explica Antônio.
Ele enumera os vários amistosos que seu time já
disputou: "Contra os Meninos da Paz, na Ilha; Florença,
de Vicente de Carvalho; Social Ramos Clube, de Ramos; escolinha
do Bonsucesso; o núcleo do Fluminense, dirigido pelo
ex-jogador Ronald, em Vista Alegre".
Ocasiões como essas serviram para que pelo menos seis
garotos passassem a treinarfora. "Alguns conseguiram
até ajuda de custo, como o Alan, no Madureira, e o
Valdirzinho, no Olaria. Tem ainda o Marcelinho, na Associação
Atlética Banco do Brasil, Lucas e Brando, no Meninos
da Paz, da Ilha. O Douglas Renan e meu filho Ítalo,
pela Associação Atlética da Tijuca, vão
disputar campeonato federado ainda este ano. E tem também
o Cleiton, que vai ser avaliado pelo mesmo time", enumera.
O filho de Antônio, Ítalo Souza dos Santos,
hoje com 12 anos, está tão animado quanto o
pai com crescimento do projeto. "Acho bom, todos os meus
colegas continuam jogando", diz. Torcedor do Flamengo,
ele agora se divide entre os treinos em Ramos e na Associação
Atlética da Tijuca, onde fez teste e passou: "Ainda
não decidi onde vou ficar treinando. Por enquanto jogo
nos dois times".
CLÁUDIO PEREIRA
VILMA HOMERO
do site Viva Favela
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