Uma brincadeira de criança
está revolucionando o sistema de abastecimento de água
de parte da população indígena brasileira.
Cobiçada pelas crianças nos playgrounds, a gangorra
virou atração em 64 aldeias do Mato Grosso.
Com algumas adaptações e muita criatividade,
o brinquedo é o ponto alto de um equipamento que extrai
água potável de lençóis freáticos.
Bomba-gangorra: esse é realmente um bom motivo para
se trabalhar com prazer. Os índios agradecem e as crianças
se divertem com a invenção do padre salesiano
Alois Wurstle, de 66 anos, mais conhecido como mestre Luís,
alemão que veio para o Brasil no fim da adolescência
e carrega como princípio a ajuda ao próximo.
Ele começou a fazer a alegria dos índios há
20 anos, quando instalou a primeira bomba-gangorra numa tribo
xavante que não tinha saneamento básico. Para
a estréia ser possível, mestre Luís teve
que se dedicar a um outro tipo de brincadeira, que exige doses
de paciência: o quebra-cabeça. Foram nada menos
que 30 tentativas para conseguir montar o equipamento ideal.
“Eu fui insistente e experimentei vários tipos
de alavancas. Finalmente, descobri uma bomba de borracha bastante
eficiente, capaz de agüentar a pressão da água
vinda dos poços artesianos e impulsionada por uma gangorra
metálica”, conta. Cada aldeia é abastecida
com cerca de três mil litros de água por dia.
Para o inventor, um dos resultados mais importantes foi a
melhoria das condições de saúde da população.
Anteriormente, baldes e mais baldes faziam fila nos riachos
próximos das aldeias. E a espera não era lá
muito compensadora. Os moradores se arriscavam com o consumo
das águas fluviais, pois parte delas estava contaminada
por agrotóxicos e fertilizantes oriundos de fazendas
da região. “Fico feliz por ter contribuído
para diminuir a mortalidade entre crianças e idosos.
Doenças como a verminose costumavam incomodar muitos
índios e hoje é difícil ver alguém
com esse problema”, diz mestre Luís.
Faça chuva ou faça sol, a rotina do salesiano
já está traçada: “nos meses em
que chove mais, fabrico as bombas-gangorra com ajuda de dois
funcionários e, nos períodos de seca, viajo
para instalar os equipamentos nas aldeias de índios
xavantes e bororos”, explica ele. O projeto faz parte
da Assistência Missionária Ambulante (instituição
da Ordem Salesiana) e foi cadastrado no Banco de Tecnologias
Sociais da Fundação Banco do Brasil. A iniciativa
também já chamou a atenção de
organizações não governamentais da Alemanha,
Espanha, Suíça e Itália, que atualmente
patrocinam o trabalho.
O conjunto da bomba-gangorra é formado por um reservatório
com capacidade para 200 litros de água, uma gangorra
metálica, uma bomba manual, uma laje de concreto, tubos
de revestimento do poço e mangueiras condutoras da
água. A etapa mais difícil é a da perfuração,
que necessita de compressores, hastes e brocas apropriadas.
Depois da identificação do lençol freático,
uma torre com a caixa-d’água é instalada.
Para deixar o líquido brotar, o serviço é
completado por uma torneira e um chuveiro. As crianças
chegam a fazer fila para se divertir enquanto puxam a água
para o banho.
“Fico muito feliz em poder ajudar esses povos indígenas
e receber o carinho deles em troca. Estou empenhado agora
em buscar apoio para instalar nas aldeias bombas que utilizam
energia solar”, diz o alemão, que se sente um
legítimo brasileiro ao contribuir para o fortalecimento
da cultura e para a melhoria das condições de
vida do povo do Brasil.
As informações são
do site Fundação Banco do Brasil.
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