Edvania Helena Paulino da Silva
cultiva desde pequena duas características: é
expansiva e adora música popular. Foi graças
a essas duas características que ela, hoje professora
do ensino público, desenvolveu um projeto sobre Aids
e educação sexual numa escola rural no interior
de Pernambuco e, após vários meses usando o
lombo de uma égua como meio de transporte, viajou de
avião pela primeira vez.
O projeto de Edvania fez parte de seu trabalho de conclusão
no curso do Proformação (Programa de Formação
de Professores em Exercício), que tem apoio do PNUD
e é destinado a capacitar pessoas que, mesmo sem habilitação,
dão aulas em instituições públicas
do ensino fundamental. Ela lecionava a classes da 1ª
a 4ª série na Escola Nossa Senhora da Conceição
Engenho Piutá, na zona rural de Palmares, uma cidade
pernambucana com cerca de 55 mil habitantes. Para trabalhar,
pegava ônibus até o começo de uma estrada
de terra; aí, fizesse sol ou chuva, montava em uma
égua e cavalgava por cinco quilômetros até
a sala de aula. Diariamente.
A seus alunos, ela procurava uma maneira de ensinar conteúdo
ligado a doenças sexualmente transmissíveis;
resolveu lançar mão de músicas e brincadeiras
para driblar a inibição e a reserva dos estudantes
em tratar do tema. “É com brincadeira que o aluno
aprende”, afirma. Essa sua teoria foi testada na Nossa
Senhora da Conceição Engenho Piutá e
na Escola Professora Judith Gomes de Barros, na cidade vizinha
de Santa Maria da Boa Vista. E aprovada: recebeu elogios da
coordenação local do Proformação
e da FASP-RJ (Federação das Associações
e Sindicatos dos Servidores Públicos no Estado do Rio
de Janeiro).
Os métodos de Edvania não são nada ortodoxos.
Ela lança mão de brincadeiras com desenhos (do
tipo ligue os pontos, encontre a figura etc.), palavras-cruzadas,
caça-palavras e música, muita música.
Na aula-show, ela cantarola de nove a 12 canções,
com destaque, sempre, para as de Roberto Carlos. Edvania quase
nunca deixa de cantar, por exemplo, trechos de “Detalhes”,
“Emoções” e “Outra Vez”.
“Sou apaixonada pelo Roberto Carlos”, declara-se.
A paixão, porém, não impediu que ela
concedesse espaço a outros músicos, o que resultou
num repertório eclético: costuma incluir, por
exemplo, Paralamas do Sucesso, Jota Quest, Martinho da Vila,
Rita Lee, Lulu Santos, Tim Maia e Kid Vinil. As canções
são usadas para amarrar os conteúdos e chamar
a atenção dos alunos, num esquema de pergunta-resposta
sobre o qual Edvania matutou por sete meses, até dar-lhe
um formato final.
A folha com as questões e as respostas numeradas é
entregue aos estudantes. Quando, por exemplo, o burburinho
das conversas na classe ultrapassa o limite do razoável,
ela indica aos alunos a pergunta 5 (“Professora, como
você fica quanto tem conversas paralelas na sala de
aula?”) e ataca de Kid Vinil: “Isso me dá
um tique-tique nervoso, tique-tique nervoso...”. Nas
aulas de educação sexual, ao falar das particularidades
do sexo feminino, busca descontrair os alunos com ajuda de
Rita Lee (“Mulher é bicho esquisito...”).
O tom de show de calouros, porém, pretende ser apenas
uma maneira de facilitar a introdução de assuntos
mais áridos. Edvania leva para a classe cartazes e
folders do Ministério da Saúde e destrincha
informações para prevenção a doenças
sexualmente transmissíveis. “Em Palmares, e principalmente
em Engenho Piutá, os adolescentes têm poucas
informações sobre isso”, avalia.
Seu trabalho chegou ao conhecimento da União dos Professores
Públicos Estaduais do Rio de Janeiro. Em março
deste ano, ela foi ao Rio participar de um ciclo de palestras
sobre trabalho docente. Lá, apresentou parte de sua
metodologia e deu uma palhinha com algumas canções
— não todas, apenas os hits paredes. Viajou de
avião pela primeira vez e, de quebra, ainda deu entrevistas
a uma rádio local. “Adorei. Para quem só
andava de égua, foi ótimo”, brinca. Na
visita à capital fluminense, ela não resistiu
a dar um pulinho no bairro da Urca, à procura do apartamento
do Roberto Carlos. O Rei não estava.
As informações são
do site PNUD.
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