De operário a doutor. Esse
foi o caminho de Sérgio Contente, presidente da CONTMATIC
Phoenix, empresa de desenvolvimento de softwares administrativos
na área contábil, fiscal e trabalhista; idealizador
do MAC (Movimento dos Amigos dos Contabilistas) e fundador
do Instituto de Desenvolvimento Profissional Amigos Contabilistas,
Empresários, Profissionais Liberais, e de Informática
(Idepac). De origem humilde, Sérgio teve a oportunidade
de estudar e cursou uma das universidades mais concorridas
do país, o Instituto Tecnológico de Aeronáutica
(ITA).
"O trabalho da Idepac
foi uma forma de retribuir para outros jovens de baixa renda
a oportunidade que tive em estudar numa boa escola e, conseqüentemente,
entrar numa faculdade. Chegou a hora de devolver o que ganhei.
Se eu conseguir ajudar pelo menos 750 jovens são pessoas
a menos sem estudo e com mais chances de ter um emprego",
afirma Sérgio.
A organização não-governamental
Idepac será inaugurada no dia oito de abril, no bairro
do Tatuapé, na zona Leste de São Paulo, com
a palestra do psiquiatra Içami Tiba e como convidado
especial o ministro do Trabalho e Emprego, Ricardo Berzoini.
Serão oferecidas 250 vagas no período noturno
nas áreas de administração e informática.
Com o objetivo de promover a inclusão social, a Idepac
tem duas frentes de trabalho: cursos de qualificação
profissional e ingresso de jovens no mercado de trabalho.
Os cursos terão uma carga
total de 600 horas/aula, que corresponde a quatro estágios
bimestrais com 150 horas/aula. Inicialmente, as aulas serão
de segunda à sexta-feira das 19 às 22h30. Nos
meses seguintes, serão oferecidas mais de 500 vagas
nos turnos matutinos e vespertino para os cursos de administração
e informática, que terão aulas de auxiliar de
escritório, auxiliar de departamento de pessoal, telemarketing,
técnicas de atendimento ao público, digitação,
webdesign, manutenção de micro e rede, e outros.
Estas aulas variam de acordo com a escolha do curso.
De acordo com Sérgio, os dois
primeiros estágios são iguais tanto para alunos
interessados em Administração quanto Informática,
mas a partir do terceiro ele opta para qual área quer
seguir. A ONG irá fornecer lanche reforçado
e todo o material didático (apostilas) além
de disponibilizar cerca de 150 computadores novos tanto para
as aulas teóricas quanto as práticas.
Para ter bolsa de estudo, os jovens
tem que atender as exigências do Programa Nacional do
Primeiro Emprego (PNPE), ou seja, ter 16 a 24 anos, sem experiência
no mercado de trabalho formal, renda per capita familiar de
meio salário mínimo e que estejam cursando ou
tenham completado o ensino fundamental ou médio. Estes
jovens devem ser encaminhados pelas entidades conveniadas
ao Idepac. Cerca de 20 organizações já
estão inscritas, sendo que cada uma tem direito a dez
bolsas de estudo.
O PNPE é um conjunto de ações
do governo federal e da sociedade civil para gerar empregos
e qualificar os jovens para o ingresso no mercado de trabalho.
As ações deste programa são Estímulo
à Responsabilidade Social, em que o governo valoriza
e incentiva as ações sociais de empresas ou
instituições para o público do programa;
Consórcio Social da Juventude, um projeto formado por
entidades ou movimentos da sociedade civil voltados à
qualificação profissional (inclusão digital,
aulas de ética e cidadania, entre outros temas); Jovem
Empreendedor, oportunidade de ocupação e renda
para jovens por meio de estímulo ao desenvolvimento
de pequenos negócios, e Soldado Cidadão, um
trabalho do Ministério da Defesa e acompanhamento metodológico
do Ministério do Trabalho, que resulta em cursos de
capacitação e formação profissional.
Priscila da Silva Amaral, 18 anos, espera que o curso seja
uma boa oportunidade para conseguir um emprego bom. Hoje,
ela trabalha como ajudante de embalagens. "Estou ansiosa
para começar logo o curso e quero seguir na área
de Administração. Se tiver oportunidade, quero
também fazer faculdade de Administração
depois de conseguir emprego", afirma Priscila.
Já a jovem Adália Alves
da Silva, 21 anos, foi indicada pela Associação
Santa Zita e também fica aguardando o começo
das aulas na expectativa de um futuro melhor. "Adoro
Informática e acho que este curso vai ajudar bastante
na hora de conseguir um emprego. Espero que dê tudo
certo", declara Adália.
Outro trabalho da entidade é
encaminhamento de jovens para o primeiro emprego. A entidade
está participando da modalidade Estímulo à
Responsabilidade Social no PNPE, já que eles se responsabilizam
pela intermediação de mão-de-obra e a
participação das empresas. A Idepac identifica
a vaga e o Delegacia Regional do Trabalho (DRT) encaminha
os jovens inscritos.
De acordo com Marluse Castro Maciel,
coordenadora do Estado do Programa Nacional Primeiro Emprego
em São Paulo, as empresas podem escolher entre o Selo
Empresa Parceira do PNPE ou a subvenção econômica.
Esta última opção trata-se de um incentivo
fiscal do governo de R$ 1.500 por ano referente a cada jovem
contratado. O pagamento é realizado por transferências
bimestrais, ou seja, seis parcelas de R$ 250.
"É importante esse
trabalho da Idepac, porque ajuda muito aquele jovem que nunca
trabalhou e vem de uma família com renda per capita
de meio salário mínimo. Não é
um trabalho assistencialista nem de Responsabilidade Social
superficial, mas trata-se de uma coisa concreta. Estes jovens
terão a oportunidade de ter uma profissão. Vão
passar ter seu próprio dinheiro e, muitas vezes, sustentar
suas famílias", ressalta Marluse.
Apesar da entidade nem ter sido inaugurada,
Sérgio está articulando com seus clientes e
outras empresas o ingresso de jovens no mercado de trabalho,
que devem estar inscritos no PNPE para a organizar identificar
a vaga e a Delegacia Regional do Trabalho (DRT) encaminhar
a vaga. Atualmente, há cerca de 29 pessoas empregadas
com carteira assinada.
Monalisa Aparecida da Cruz, 18 anos,
está trabalhando como recepcionista desde quatro de
março no escritório Relíquia. "Para
mim, este trabalho está sendo bom ainda mais que é
meu primeiro registro. Eu protocolo, arquivo documentos e
passo recado. Me esforço bastante para aprender a cada
dia", disse Monalisa.
Já sua coordenadora Cristina
Teixeira, da parte Administrativa do escritório, aprova
a iniciativa do programa da Idepac em dar oportunidades de
trabalho para jovens de baixa renda e inexperientes. "Cada
dia é mais difícil encontrar pessoas que empregam
pessoas inexperientes. Chega a ser ridícula essa situação.
Todos querem experiência, mas ninguém dá
oportunidade. Já dá para sentir que ela está
se desenvolvendo aqui. Ela tem educação quando
fala com o público e demonstra ter vontade de aprender",
conta Cristina.
Núbia Barbosa do Amaral, 18
anos, foi outra jovem beneficiada pelo programa de
ingresso no mercado de trabalho. Desde do dia sete de março,
ela trabalha numa loja de roupas infantil. Fica na recepção,
faz controle de estoque e cálculos. "Estou feliz
por trabalhar em um emprego fixo. Eles estão ensinando
ainda muitas coisas. Agora vou ter dinheiro para pagar minhas
continhas", afirma Núbia.
Neide Costa de Barros, chefe de Núbia,
ficou interessada no PNPE desde a primeira vez que ouviu falar,
mas achava que tinha muita burocracia. "Quando meu contador
comentou que a Idepac estava ajudando na triagem, seleção
e na burocracia. Não tive dúvida e em uma semana
já tinha contratado uma funcionária do programa
do governo. O cadastro com o DRT foi feito muito rápido
pela internet. Não me arrependo, já que minha
funcionária é bastante atenciosa", afirma
Neide.
ONG Colméia orienta jovens indecisos sobre
qual carreira seguir
"Eu era completamente perdida e indecisa para saber que
carreira iria seguir. O programa foi uma forma de conhecer
as outras profissões. Eles não falaram para
mim o que fazer, mas fizeram de uma forma para que eu mesma
descobrisse". A jovem Mayse Bertani Oliveira, 19 anos,
conta como foi o Programa de Orientação Profissional,
que participou em outubro de 2004.
Há mais de 15 anos, a entidade
Colméia - Instituição a Serviço
da Juventude oferece este programa para jovens de baixa renda
com atendimento em grupo de 10 a 15 participantes. Criada
em 1942, seu principal objetivo é auxiliar moral, material
e intelectualmente os estudantes do Ensino Médio com
atividades complementares da escola e da família.
Atende cerca de 300 jovens por meio
de áreas de atuação como o Centro de
Orientação Vocacional/Profissional e o Programa
de Complementação Escolar com o Grêmio
Esportivo/Educativo e o Programa de Qualificação
Profissional. Além disso, há cursos de decoração,
dança de salão, artes plásticas, judô,
aulas de canto, etiqueta, que são pagos e viabilizam
financeiramente os outros cursos gratuitos.
O programa de Orientação
Profissional visa atender jovens entre 16 e 21 anos de escolas
de rede pública, que estejam cursando Ensino Médio
ou cursinhos gratuitos. As aulas serão realizadas todas
as terças-feiras das 14h às 16h30, na sede da
instituição, a partir do dia 29 de março.
As inscrições para esta turma deverão
ser feitas até dia 24 de março (quinta-feira).
Mas, a entidade forma outros grupos de acordo com a disponibilidade
dos participantes e os interessados podem deixar seu nome
numa lista de espera para novas turmas.
De acordo com Marisa Donatiello,
coordenadora da Colméia, as atividades promovidas pelo
Programa procuram organizar o pensamento dos jovens, seus
interesses e ajudam a eles verem suas predominâncias.
"Os jovens trabalham em grupos de no máximo 15
pessoas. Eles participam de jogos, que ajudam a ver a quilo
que podem se transformar em trabalho e ver as dificuldades
de cada carreira. É importante visualizar os valores
dos jovens, sua família e o contexto em que ele está
inserido", declara Marisa.
Após o programa, Mayse começou
a fazer terapia para se conhecer melhor, mas ainda está
indecisa entre Direito e Jornalismo. "Trabalho num escritório
de advocacia e cursar Direito já seria meio caminho
andado. Eu gosto do que eles fazem aqui. Mas em uma das atividades
do Programa de Orientação Profissional conheci
o trabalho de jornalista e me identifiquei bastante na parte
da pesquisa, leitura e escrever", conta Mayse.
A jovem admite ainda ter medo de
se frustar em começar um curso e depois largar. "O
programa me deu um click e fiquei bastante empolgada, pois
cada aula era um tema diferente, atividades diversificadas
e me conhecia um pouco mais. Tive sorte em participar de um
grupo que falava bastante e trocávamos muitas idéias
e sonhos. Apesar de estar indecisa, pelo menos sei onde devo
me dirigir e trabalhar minha insegurança, já
que tenho medo em pisar em algo desconhecido", disse
Mayse.
Após anos de experiência,
Marisa notou que jovens que estudam na rede pública
e à noite são mais autônomos, que estudantes
do período matutino e não trabalham. Os primeiros
jovens procuram por iniciativa própria o programa,
enquanto os últimos são impulsionados pelos
pais. "Em geral, os que estudam a noite são mais
velhos e tem o perfil de trabalhador. As mães dos estudantes
do período da manhã que incentivam seus filhos
a participarem e mostram uma probabilidade maior de cursar
a graduação", revela Marisa.
"Aqui as pessoas tem a
oportunidade de mostrar seus desejos e sonhos. Eles abrem
seus tesourinhos e discutem muito com a psicóloga.
Vemos todos os limites e dificuldades de muitas profissões.
Questionamos o que eles querem fazer e podem cursar. Fazemos
exercícios de auto-conhecimento. Assim, trabalhamos
com projetos de vida", declara Marisa.
Segundo a coordenadora, os jovens
chegam esgotados e pressionados para escolher uma carreira
o mais rápido possível. Por isso, a Colméia
incentiva os jovens a discutirem mais cedo a escolha da profissão
para não deixar nos meses de vestibular e acabar sendo
precipitados. "É uma angústia sobre-humana.
Muitos chegam desanimados e falam que tanto faz a carreira
que seguir, porque está tudo ruim para conseguir emprego
depois", conta Marisa.
O programa conta com psicóloga
e pedagoga. Há pesquisa bibliográfica sobre
as carreiras e incentivo à exploração
de campo, ou seja, conversar com um profissional mais experiente
para verificar seu trabalho. A orientação vocacional
é formada por sete sessões de duas horas e meia
uma vez por semana. O programa gratuito e pago tem a mesma
duração e material para os estudantes.
Dayane de Souza Vicente, 18 anos,
participou do programa em setembro de 2004 e está encaminhada.
Estava em dúvida entre Administração
e Pedagogia. "A cada encontro esclarecia uma dúvida
referente aos cursos que estava indecisa. Fiz bastante amizade
e abri meus olhos para o que queria mesmo. Até conhecia
profissões totalmente desconhecidas. Optei por Pedagogia
e estou no primeiro ano de faculdade. Quando a gente faz o
que gosta fica até mais fácil de aprender",
revela Dayana.
Serviço:
Colméia - Instituição a Serviço
da Juventude
Horário e Atendimento para inscrições:
8h às 11h30 e 13h. às 18h30
Rua Marina Cintra, 97
Jd. Europa- São Paulo
Tel. (11) 3062-2258
www.colmeia.org.br
Sede da Idepac
Rua Visconde de Itaboré, 441, Tatuapé- São
Paulo
Tel. (11) 6190-7767/6192-6166 (com Paloma Oliveira)
www.idepac.org.br
Programa Nacional do Primeiro Emprego
http://www.mte.gov.br/FuturoTrabalhador/primeiroemprego
SUSANA SARMIENTO
do site setor3
|