O trabalho de reinserção
de crianças de zero a 10 anos de idade que foram maltratadas
ou negligenciadas por pais dependentes de drogas fez o projeto
Arte de Viver, de Londrina, receber reconhecimento nacional.
A proposta, da Instituição Casa de Maria Centro
de Apoio a Dependentes, é uma das 15 finalistas do
Prêmio Criança da Fundação Abrinq,
que será entregue no dia 4 de agosto, em São
Paulo. O projeto é o único do Paraná
na disputa pelo prêmio.
Segundo a presidente da entidade, Regina Célia Siqueira
Almeida, o objetivo do projeto é a reinserção
das crianças na família, porém sem deixar
de lado o acompanhamento e tratamento dos vícios dos
pais. ''Esse é o nosso diferencial'', garante. Tanto
que na categoria ''Convivência Familiar'', eles estão
entre as quatro instituições selecionadas.
A instituição, que já possuia um ambulatório,
um internato e um seminário para atender dependentes
químicos, alcoolistas e portadores do HIV, assumiu
no dia 18 de abril de 2000 a função de reestruturar
a família de algumas crianças em situação
de risco. ''Algumas vezes a criança chega primeiro,
encaminhada pelo Conselho Tutelar ou pelo Ministério
Público (MP), e depois entramos em contato com a família.
Mas há casos que toda a família vem de uma vez'',
contou a assistente social da entidade, Uani Rocha Barbosa.
Somente em casos extremos o MP encaminha a criança
para a adoção. ''Muitas mães chegam aqui
falando que já fizeram muitos tratamentos e não
adiantaram, mas que querem seus filhos. E é neste ponto
que vamos motivá-la'', explicou a presidente.
Em quatro anos de funcionamento, o projeto atendeu 39 crianças,
das quais 27 continuam frequentando a casa-abrigo e outras
18 foram devolvidas às famílias. ''Não
deixamos os familiares perderem os vínculos com a criança.
Se eles não vêm visitar, a gente leva os filhos
até eles'', declarou Uani. Ela ressaltou que mesmo
sem contato direto com os pais, os pequeninos podem conviver
com tios ou avós, como é o caso de cinco crianças
que estão em tratamento.
Segundo a psicóloga Maisa Batista de Lima Rossignoli,
todas crianças chegam assustadas e arredias, mas que
com o tempo se adaptam. Após um ano de trabalho os
frutos já começam a ser colhidos. ''Temos algumas
crianças que corrigem o comportamento dos pais e outras
que admitem que jamais vão fumar ou beber'', contou
a assistente social.
A psicóloga ressalta que durante o tratamento a criança
fica ciente da realidade que vive. ''Eles temem muito pelo
fracasso dos pais, mas temos que ensiná-los ajudar
na recuperação'', disse Maisa. Na casa-abrigo
a vida é igual a de qualquer criança. Eles estudam
na escola do bairro, fazem atividades esportivas, vão
à catequese e ao posto de saúde. E não
falta tempo livre para brincar e visitar os amigos.
A meta inicial era que, depois de um ano, as crianças
retornassem às suas famílias. Contudo a equipe
avaliou que, embora as crianças já estivessem
preparadas para o retorno, as famílias precisavam de
um tempo maior. Hoje o tempo médio de acompanhamento
é de dois anos.
Para motivar a recuperação dos pais, os 16
funcionários e 20 voluntários da instituição
elaboram um do genograma um estudo das estruturas familiares
para análise das relações e posterior
intervenção. É reconstruída a
história das últimas três gerações,
visando perceber os conflitos e dramas repetidos. ''Neste
ponto que nós mostramos a importância de colocar
um fim nesta situação e fazemos este trabalho
de prevenção com as crianças'', disse
Regina.
O projeto Arte de Viver recebe verba da Prefeitura de Londrina,
mas é mantido com a ajuda da comunidade. ''Eles sempre
doam calçados, roupas, móveis. Mas sempre precisamos
de ajuda'', disse a presidente.
As informações são
da Folha de Londrina - PR.
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