O Programa Leite Vida é
um exemplo de como uma idéia simples pode transformar
a vida de muitas pessoas. A partir da criação
de cabras, a cidade de Timon, no interior do Maranhão,
desenvolveu uma iniciativa para erradicar a desnutrição
infantil em suas comunidades desfavorecidas. Com aproximadamente
130 mil habitantes, Timon está situada na divisa com
o Piauí, ficando a 426 quilômetros de São
Luis, capital do Maranhão, e apenas 11 de Teresina,
capital do Piauí. Apesar do nome de origem nobre (Timon
foi um pensador grego), a cidade sofre com problemas bem comuns:
segundo o IBGE, parte de sua população vive
abaixo da linha de pobreza.
Para combater a miséria e melhorar a qualidade de
vida das famílias, há um ano a prefeitura criou
o programa Leite Vida, cadastrado no Banco de Tecnologias
Sociais da Fundação Banco do Brasil. A idéia
não podia ser mais fácil de executar: cada participante
recebe três cabras para ordenhar e a comunidade recebe
um macho reprodutor. Ao final de dois anos, os beneficiados
devolvem três crias fêmeas que serão repassadas
para outras famílias, dando continuidade ao projeto.
As famílias mais pobres são selecionadas por
uma comissão da prefeitura e participam de um curso
de capacitação de 24 horas no qual aprendem
noções de gestão, associativismo e cooperativismo.
“Queremos evitar o assistencialismo e realmente dar
a essas famílias um novo meio de vida”, diz Raimundo
Rômulo Costa Rocha, um dos veterinários que faz
o acompanhamento técnico do programa.
Para dar assistência, dois engenheiros agrônomos
e dois médicos veterinários da prefeitura fazem
visitas constantes às comunidades. Na fase inicial,
as visitas são semanais, depois quinzenais e, eventualmente,
mensais. Todo esse trabalho tem como objetivo tornar os moradores
aptos a passar o projeto adiante.
Além disso, a prefeitura fornece medicamentos e reforço
alimentar para os animais alocados nas comunidades onde o
projeto foi implantado, embora esta medida seja temporária.
Para sua implantação, são gastos inicialmente
de 10 a 15 mil reais. A manutenção mensal para
as cerca de 40 famílias atendidas na primeira etapa
foi de quatro mil reais.
Inicialmente, o programa Leite Vida foi instalado em duas
comunidades de Timon, no Planalto Boa Esperança (na
área urbana) e em Mata Pasto (na zona rural), em março
de 2003. Quarenta famílias aderiram, 20 em cada local,
e receberam um total de 122 animais (60 fêmeas e um
macho por comunidade). Menos de dois anos depois, o rebanho
conta com 280 animais nas duas comunidades, um aumento de
130%. “Se as famílias não vendessem os
machos que nascem, cada comunidade teria mais de 200 animais”,
acredita o doutor Rômulo.
Juntas, todas essas cabras produzem uma média de 25
litros de leite por dia. O leite é todo aproveitado
na comunidade, servindo como fonte de nutrição
para as crianças de até seis anos. Além
do leite, o esterco produzido pelas cabras é vendido
como adubo e, em menor escala, a carne é aproveitada
para consumo próprio. Futuramente, a prefeitura, em
parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
– Embrapa, pretende ministrar cursos de aproveitamento
do leite, para ensinar os participantes do projeto a produzirem
queijo, iogurte e outros derivados do leite para a venda.
Implantação
Embora o programa exista há pouco tempo, seus efeitos
já podem ser sentidos nas comunidades. Dalvanira Elias
da Silva tem cinco filhos e participa do projeto desde sua
implantação, há um ano e sete meses.
Ela é moradora de Planalto Boa Esperança, que
possui apenas um telefone, um orelhão próximo
à horta comunitária. “Antes do programa
era muito difícil, o pessoal daqui é muito pobre”,
diz ela. Como as outras famílias, ela recebeu as três
cabras, que produzem três litros de leite por dia. “A
qualidade do leite é muito boa, melhorou em muito a
saúde das crianças. Hoje, elas não são
mais pálidas, não têm feridas na boca,
nem gripe permanente.”
Dona Dalva, como é conhecida, foi uma das pessoas
escolhidas para auxiliar nos cursos de capacitação
da prefeitura: “Muita gente daqui não sabe cuidar
das cabras, nem tirar leite. Como eu sabia, me pediram para
ensinar aos outros.” Desde então, ela vem passando
esse conhecimento adiante, para os seus vizinhos, que vão
sendo integrados ao projeto conforme as primeiras famílias
vão devolvendo suas crias, o que já vem acontecendo,
mesmo que o prazo de dois anos não tenha acabado ainda.
“Isso contribui para a expansão do projeto,
pois, conforme vamos recebendo as crias, já as repassamos
para outras famílias”, diz Maria Orcélia
Rodrigues de Sousa, subsecretária municipal de Assistência
Social.
Além das duas comunidades iniciais, mais cinco novas
foram incluídas. Três em assentamentos do Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária
– Incra, nas localidades de Juliana, Coeb1 e Boa Esperança,
sendo cinco famílias em cada uma, num total de 45 cabras
e três reprodutores. Além dessas, mais uma foi
instalada em Bambu, no mês de setembro, com dez famílias
e outra, ainda em fase de instalação, em Açude,
que conta com apenas quatro famílias.
Atualmente, o Leite Vida corre risco de extinção.
“É um projeto caro, que exige muitos esforços
e muitos recursos. Vamos fazer de tudo para que ele continue
existindo, mas não temos nenhuma garantia”, diz
Maria Orcélia.
REGINA MONTENEGRO
da Fundação Banco do Brasil
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