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saúde
02/04/2004
Toque não evita morte por câncer da mama

O Ministério da Saúde vai relativizar a importância do auto-exame da mama e priorizar o exame clínico e a mamografia como forma de prevenir o câncer mamário, o que mais mata as brasileiras.

As medidas constam de um consenso que vai nortear a política nacional para o controle do câncer da mama, que o ministro da Saúde, Humberto Costa, e o Inca (Instituto Nacional de Câncer) lançam hoje no Rio. É a primeira vez que será estabelecida uma política de prevenção no país, que pretende reduzir em 20% a taxa da mortalidade.

Até agora, campanhas de prevenção financiadas pelo governo sempre defenderam que o auto-exame era o principal aliado no combate à doença.

A nova proposta é que todas as mulheres acima de 50 anos façam a mamografia a cada dois anos e se submetam a exame clínico anualmente. As que tenham histórico familiar da doença devem fazer a mamografia todos os anos, a partir dos 35 anos. Para isso o ministério deve anunciar a compra de mais mamógrafos. Hoje, apenas 9% dos municípios brasileiros possuem o aparelho.

Em São Paulo, por exemplo, as mulheres chegam a esperar quase um ano para a realização do exame radiológico das mamas.

O documento foi baseado em duas pesquisas recentes, feitas com 387 mil mulheres na Rússia e na China, financiadas pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e pelo Instituto Nacional do Câncer dos EUA, respectivamente, que revelam a ineficácia do auto-exame para diminuir a mortalidade por câncer da mama.

Segundo Ezio Novais, presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia e que participou da elaboração do consenso, há um entendimento internacional de que a mamografia é o único exame que consegue prevenir as mortes por câncer da mama.

Até 30% dos casos registrados nos principais serviços de oncologia brasileiros são referentes a tumores não-detectáveis na apalpação feita pela paciente ou no exame clínico. Nesses casos, só mesmo a mamografia é que vai identificar o câncer, diminuindo em até 30% as chances de mortalidade.

Dados do Inca de 2003 indicaram 9.335 óbitos pela doença e o surgimento de 41.610 casos.

Segundo Novais, o auto-exame continuará sendo estimulado por três razões: pode detectar o câncer em mulheres fora da faixa etária de risco (acima dos 50 anos), descobrir outras doenças benignas da mama (mas que precisam de tratamento) e ajudar mulheres que não têm acesso ao serviço de saúde a descobrir os tumores, ainda que em fase mais avançada.

No auto-exame, são detectados nódulos de 1,5 cm a 2 cm. Já a mamografia pode diagnosticar tumores malignos com só 1 mm, quando as chances de cura são de 95%. "Claro que o ideal seria indicar a mamografia a todas as mulheres. Mas, tratando-se de países do Terceiro Mundo, isso é impossível." Cada mamógrafo custa, em média, US$ 150 mil.

Segundo o mastologista José Luiz Bevilacqua, do Hospital Sírio Libanês, além de mostrar a ineficácia para combater as mortes, os estudos revelam que o estímulo ao auto-exame leva a um aumento do número de biopsias desnecessárias e provoca ansiedade, depressão e medo nas mulheres.

"Não podemos mais dar informações distorcidas ou incompletas à sociedade sobre os métodos ineficazes de prevenção de câncer, como o auto-exame", afirma.

Para ele, o ministério deveria reavaliar a indicação da mamografia apenas da faixa etária acima de 50 anos porque há Estados, como o de São Paulo, em que o pico de incidência se dá antes, entre os 40 e os 49 anos.



CLÁUDIA COLLUCCI
da Folha de S.Paulo

   
 
 
 

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