Os gastos
do governo com o pagamento do seguro-desemprego aumentaram
18% no primeiro trimestre deste ano em relação
ao mesmo período do ano passado, embora o número
de trabalhadores que recebem o benefício tenha apresentado
queda de 36%.
Apesar de o reajuste de 20% para o salário mínimo
em abril do ano passado ter sido o principal fator para o
aumento nos gastos, o Ministério do Trabalho começa
a dissecar os números para verificar uma suspeita:
as demissões nos primeiros meses do ano atingiram principalmente
trabalhadores com maior renda e escolaridade mais alta.
"Essa hipótese está sendo analisada. Ainda
estamos fazendo um estudo mais profundo. Mesmo que haja confirmação,
não vejo isso como uma tendência para o resto
do ano", afirmou o diretor do Departamento de Emprego
e Salário, Carlos Augusto Gonçalves. "A
recuperação de alguns setores da economia sugere
uma melhoria na qualidade do emprego, embora não de
forma quantitativa", completa.
Entre janeiro e março do ano passado, 1,26 milhão
de trabalhadores receberam parcelas do seguro-desemprego.
Nos três primeiros meses deste ano, o número
caiu para 808,9 mil pessoas. A queda no total de beneficiários
indica uma redução no número de demissões
no período.
Os dados de março, no entanto, ainda são parciais.
"Deve haver ainda uma grande variação nos
números de março, mas a tendência é
ficar abaixo dos números de fevereiro", explicou
o diretor Gonçalves.
Ele acrescentou que somente com o fechamento dos dados do
primeiro trimestre do ano será possível falar
em uma tendência consolidada de redução
nas demissões no país.
Demitidos com mais renda
Pelo resultado parcial do governo, em março
apenas 92.536 trabalhadores receberam o seguro-desemprego.
Em fevereiro, tinham sido 336.414 pessoas.
Mesmo que preliminares, os números de março
reforçam a tese de que trabalhadores com maior renda
perderam o emprego no início do ano. No terceiro mês
de 2004, R$ 590 mil foram desembolsados pelo governo para
pagar o benefício. Em fevereiro, os gastos do governo
com essa despesa chegaram a R$ 502,4 mil.
Em março do ano passado, a conta foi de R$ 474,1 mil.
E esse montante, menor do que o deste ano, beneficiou mais
que o quádruplo de pessoas: um total de 428.295.
Tanto na comparação com fevereiro deste ano
quanto com março do ano passado, os dados mostram que
um número muito menor de pessoas teve direito ao benefício
em março deste ano, mas a despesa foi maior.
Some-se a isso o fato de que, da mesma forma que o total de
beneficiários, o valor pago aos trabalhadores ainda
deverá apresentar crescimento quando for fechado o
resultado de março.
Na análise trimestral, os gastos com o benefício
nos três primeiros meses deste ano foi 18% maior que
no mesmo período de 2003. De janeiro a março
de 2003, o gasto foi de R$ 1,401 milhão. Neste ano,
o número preliminar do trimestre é de R$ 1,651
milhão.
"Por enquanto, a análise que fazemos é
que o quadro da ocupação não sugere uma
trajetória consistente em empregos de qualidade",
disse Gonçalves.
JULIANNA SOFIA
LEONARDO SOUZA
da Folha de S.Paulo
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