JATAIZINHO
(PR) - Até o nome da rua é inspiração
à leitura: Rua Monteiro Lobato, 550. Esse é
o endereço da Escola Municipal D. Pedro II, em Jataizinho
(21 km a leste de Londrina), onde nas duas últimas
semanas professores e alunos se mobilizaram em uma série
de atividades de incentivo à leitura. Sem sede própria,
já que a instituição ocupa o espaço
da Escola Estadual Joana H. M. Borba, o jeito foi improvisar
uma sala de aula para montar o ''Espaço da Leitura''.
Repleta de gibis, incluindo exemplares de Marvel, Wolverine,
A Turma da Mônica, livros infantis e exemplares da Folha,
a sala de aula foi palco de várias atividades entre
elas teatro com fantoches e dramatizações. A
escola atende 420 alunos de 1 à 4 série.
Foi uma surpresa quando as crianças viram a professora
Cirlene Aparecida Mizael Camargo encarnando a Cinderela. Com
vestido pomposo, sapatinhos de ''cristal'' (na verdade, de
plástico), coroa de ''brilhantes'' na cabeça,
ela deu vida a uma das personagens mais famosas do imaginário
infantil. Com habilidade, ela contou a história de
uma moça pobre que após ser oprimida pela madrasta,
decide ir ao baile do príncipe. Sob poderes mágicos,
ganha uma linda roupa e sapatinhos de cristal. Mas precisa
sair da festa até meia-noite, quando o encanto se desfaz.
Na festa, ela acaba conhecendo o príncipe, mas tem
que fugir correndo já que as horas estavam avançando.
Na correria, um sapatinho fica pelo caminho e é através
dele que o príncipe irá encontrar a sua amada.
No final, como na maioria dos contos de fadas, eles vivem
felizes para sempre. As crianças adoraram ouvir a história
dramatizada e no final a professora deixa um recado: ''Devemos
sempre buscar a honestidade. Mesmo que a situação
seja ruim, não podemos abandonar o bem, pois, no final,
tudo dará certo!'', recomendou.
''Foi a primeira vez que participei de uma dramatização
e gostei muito. Ser professor é dom. É preciso
que o aluno goste do professor para que ele acredite naquilo
que está passando. Sobre o ato de ouvir histórias,
isso é um grande estímulo para a leitura, que
faz com que aluno viva outras realidades e desenvolva o seu
senso crítico'', destacou Cirlene.
O aluno Diego Martins Laurindo, 9 anos, falou que gostou
muito da dramatização. ''Não gosto muito
de ler, mas acho que isso me ajudou a querer ler mais. Prefiro
ler livros'', disse. Sua colega de sala, Yorrana Pedroso,
9 anos, destacou que ouvindo a história da Cinderela
aprendeu que não se deve fazer mal aos outros. ''Se
você for mau, a maldade pode voltar contra você.''
O aluno Teófilo da Silva Brandt, 9 anos, também
aprovou a experiência. Ele foi um dos responsáveis
pelo teatro de fantoches da ''Chapeuzinho Vermelho'' e e vivenciou
o personagem ''Lobo Mau''. ''Nós apresentamos uma versão
moderna da história. A Chapeuzinho anda de moto, o
processo de industrialização está chegando
no bosque, o Lobo toca guitarra e sempre pergunta para a ela
(Chapeuzinho) se veio para criticar alguma coisa'', explicou
Teófilo.
Apaixonado por gibis, ele contou que uma das coisas que mais
gosta de fazer é comprar gibis nos sebos de Londrina.
''Aqui em Jataizinho não há sebos e o meu personagem
favorito é o Cebolinha'', contou o aluno. Téofilo
também já está colhendo os frutos dos
benefícios que a leitura pode trazer. Quem cultiva
o hábito de ler, normalmente também desenvolve
a habilidade da escrita, o que favorece as redações
escolares. Prova disso foi que ele venceu este ano um concurso
de redação promovido pelo município com
alunos da 3 série.
O tema foi ''O Trabalho''e a redação de Teófilo
abordou a relação do trabalho com o meio ambiente.
Na sua dissertação, escreveu sobre a chuva ácida,
a poluição dos rios e também pontuou
sobre a exploração desenfreada da argila em
Jataizinho. ''A argila quase não existe mais aqui e
é um recurso irrenóvavel. O pouco que resta
de argila está nas margens dos rios e não pode
ser tirado para não prejudicar a mata ciliar que protege
contra o assoriamento dos rios'', defendeu Teófilo,
demonstrando consciência ecológica.
''O ideal seria que tivéssemos um espaço próprio
e permanente como este para estimular a parte lúdica
das crianças, mas, enquanto isso não acontece,
temos que improvisar e acho que todo esforço valeu
a pena'', comentou a supervisora Janeti Aparecida Carvalho
Vaz.
ANA PAULA NASCIMENTO
do jornal Folha de Londrina
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