Albertina
Duarte Takiuti, coordenadora do programa Saúde do Adolescente
da Secretaria de Estado da Saúde resolveu se adiantar
e, mesmo antes da posse de José Serra (PSDB) e de seu
secretariado, conversou com o titular de Educação,
José Aristodemo Pinotti, sobre a criação
de creches nas escolas para abrigar os filhos de estudantes
adolescentes.
"Sugeri essa medida ao doutor Pinotti e ele se mostrou
bastante sensível. Aí teríamos creches
nos CEUs [Centros Educacionais Unificados] e nas escolas municipais
para que elas não precisem deixar o filho com outra
pessoa para estudar", conta Takiuti.
Para ela, permanecer na escola é um fator de proteção
para as adolescentes que engravidam precocemente. "Fizemos
uma pesquisa que apontou que as adolescentes que abandonam
a escola voltam a engravidar mais rapidamente", diz.
"Estimulando as jovens a permanecerem na escola, o programa
da Casa do Adolescente, em São Paulo, conseguiu reduzir
em 26% a gravidez entre adolescentes do Estado e em mais 10%
a segunda gravidez."
Outras causas
Trabalho e dificuldade no aprendizado também foram
apontados como causa do abandono escolar de jovens de 15 a
17 anos que estão fora da escola.
"O ensino médio funciona como um gargalo. A maioria
dos jovens está matriculada no ensino fundamental,
mas apenas 30% passa para o ensino médio", afirma
Miriam Abramovay, autora da pesquisa.
"Muitas vezes, o problema não é da qualidade
do aluno, mas da escola, que o exclui, que diminui sua auto-estima
e dificulta a relação entre o conhecimento adquirido
na escola e o mundo exterior a ela", avalia Denise Carreira,
coordenadora da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.
Paulo Renato Souza, ex-ministro da Educação,
destaca que o número de matrículas no ensino
médio dobrou nos últimos nove anos. "Com
a universalização do ensino fundamental [que
abriga hoje 97% dos alunos em idade escolar adequada], a tendência
é de aumento da demanda, mas há uma quebra de
continuidade dos alunos na passagem do ensino fundamental
para o médio por conta de condições econômicas
ou da própria estrutura do ensino, que afasta quem
não está estimulado", diz.
Para o ex-ministro, criar programas de ajuda financeira ao
alunos deste nível, como foi feito na Argentina, e
políticas para grupos de risco, como o das adolescentes
grávidas, são saídas viáveis.
Falha no financiamento, falta de professores e carência
de cursos noturnos. Esses foram três fatores citados
pelo secretário da Educação Básica
do MEC, Francisco das Chagas Fernandes, para explicar por
que o ensino médio é considerado um gargalo
da educação.
"O ensino médio está desprotegido, sofre
com falta de professores em algumas áreas e com os
baixos salários. Estamos redefinindo seu financiamento
com a proposta do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento
da Educação Básica", disse.
FERNANDA MENA
da Folha de S. Paulo
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