Ganhar
a eleição foi uma festa para cada um dos 5.562
prefeitos eleitos em 2004, mas para muitos a posse só
trouxe problemas. Em Fortaleza, a prefeita Luizianne Lins
(PT) não tem funcionários para as áreas
da educação, saúde e assistência
social; em Itu (SP), Herculano Júnior (PV) topou com
salários atrasados, a cidade abandonada e dívidas
de R$ 140 milhões; em Camaragibe (PE), João
Lemos (PC do B) teve de levar material de limpeza de casa
para limpar o gabinete. Em Belém, Duciomar Costa (PTB)
denunciou à polícia o desaparecimento de discos
rígidos de computadores da prefeitura.
Ontem a Confederação Nacional dos Municípios
(CNM) confirmou que metade das cidades (50,21%) tinha, no
fim de 2004, restos a pagar superiores aos ativos financeiros
de que dispunham. A informação consta de estudo
da CNM divulgado no dia 19 de dezembro pelo Estado. "Esses
resultados só aparecerão em maio, quando os
prefeitos fizerem sua prestação de contas. Mas
dados do Tesouro Nacional indicam desde já que metade
das prefeituras não conseguirá se adequar à
Lei de Responsabilidade Fiscal", diz o presidente da
CNM, Paulo Ziulkoski.
Ao chegar ontem para o primeiro dia útil à
frente da prefeitura de São Gonçalo (RJ), a
prefeita Aparecida Panisset (PFL) encontrou um único
computador em todo o gabinete - e com defeito. Seu primeiro
grande problema é pagar o mês de dezembro dos
servidores inativos, conta que o antigo prefeito Henry Charles
(PTB) deixou intacta. O primeiro ato do novo prefeito de Manaus,
Serafim Correa (PSB), foi dispensar 2,5 mil nomeados pelo
antigo prefeito Luiz Alberto Carijó para mais de 50
grupos de trabalho que, diz Serafim, tinham finalidade eleitoreira.
Em Porto Alegre, José Fogaça (PPS), que destronou
quatro gestões do PT, prevê contenção
de gastos nos primeiros meses e criticou a gestão petista,
que cobrou adiantado o IPTU de 2005 e ainda pediu R$ 22 milhões
emprestados ao Departamento Municipal de Água e Esgotos
(DMAE) para pagar parte do funcionalismo.
Em Nova Iguaçu (RJ), o estreante Lindberg Farias (PT)
começou o dia negociando com os 1.400 funcionários
terceirizados do Hospital da Posse - que é federal,
mas está sob administração municipal
- cujos contratos de trabalho venceram no mês passado.
"Se todos fossem embora, o hospital parava", comentou
Lindberg, feliz, ao conseguir que os servidores voltassem
ao trabalho ante o compromisso de que vão receber seus
salários. A dívida da prefeitura é de
R$ 330 milhões - pouco mais de 1% da dívida
total que o prefeito José Serra vai administrar em
São Paulo -, calculou o prefeito, dando razão
aos estudos da CNM.
O prefeito de Duque de Caxias (RJ), Washington Reis (PMDB),
enfrentou no primeiro dia um enorme protesto de servidores
municipais que ainda não receberam o salário
de dezembro, numa conta que chega aos R$ 20 milhões.
Mas não foi a única cobrança. Representantes
de empresas fornecedoras foram à prefeitura cobrar
R$ 30 milhões de dívidas atrasadas.
O novo prefeito de Bauru, Tuga Angerami (PDT), encontrou
um cofre vazio e a obrigação inadiável
de pagar os salários de dezembro aos 4.800 funcionários
ativos e os 1.100 inativos. Ele negociou com o Banco do Brasil
um empréstimo para seus funcionários, a juros
de 1,81% ao mês. A prefeitura avaliza o empréstimo
e pagará ao banco, descontando o valor dos funcionários,
que vão ficar com o prejuízo dos juros.
Em Capão Bonito (SP), na região de Sorocaba,
o prefeito José Carlos Tallarico Júnior (PFL)
foi outro que encontrou o gabinete sem os móveis e
equipamentos de som e vídeo que estavam lá.
"O jogo de sofá, que era novo, foi trocado por
outro, um jogo velho", reclamou. Ele vai cobrar as peças
sumidas do ex-prefeito Roberto Tamura (PSDB).
O prefeito de Itapetininga, Roberto Ramalho (PMDB), lamentava-se
ontem que, dos 160 veículos e máquinas da frota
municipal, quase um terço está parado por falta
de peças, pneus e óleo lubrificante. Ele disse
ter encontrado o caixa municipal vazio: o empenho para pagar
os salários de dezembro do funcionalismo não
foi feito. Pior é a situação do prefeito
Hernani Camargo (PHS), de Itaporanga (SP), que assumiu com
o funcionalismo em greve e uma vigília de 150 servidores
à frente da prefeitura, além de dívidas
de R$ 1,1 milhão.
Em Camaragibe (PE), João Lemos (PC do B) encontrou
o funcionalismo em greve, sem receber salários desde
novembro, postos de saúde fechados e lixo pelas ruas.
"É melancólico", disse ele, referindo-se
às duas gestões de Paulo Santana (PT), seu ex-aliado.
As informações são
do jornal O Estado de S. Paulo.
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