Praticamente
uma em cada cinco famílias brasileiras vive em situação
de alta vulnerabilidade. A pesquisa de Indicadores Sociais
Municipais do IBGE, divulgada ontem no Rio, mostra que em
22% dos domicílios no país o rendimento médio
mensal em 2000 era menor do que meio salário mínimo
per capita, os responsáveis pela casa tinham menos
de quatro anos de estudos e havia a presença de ao
menos uma criança de até 14 anos de idade.
Foram esses os critérios usados pelos pesquisadores
do instituto para definir vulnerabilidade. Os dados do IBGE,
que tiveram como base o Censo de 2000, mostram que essa situação
de vulnerabilidade é maior nas cidades de pequeno e
médio porte do que nas grandes cidades.
Em municípios com menos de 5.000 habitantes, a proporção
de domicílios onde foram encontradas essas condições
era de 31%.
O percentual mais alto foi encontrado nas cidades com população
entre 10 mil e 20 mil habitantes, onde chegou a 39%. No outro
extremo, nos municípios com mais de 500 mil habitantes,
esse percentual cai para 9%.
Outro dado que indica a pior condição social
nas cidades pequenas é o que compara a proporção
de crianças e adolescentes que estavam trabalhando
em 2000. Nas cidades com menos de 5.000 habitantes, o percentual
de ocupados na população de 10 a 17 anos era
de 23%. Esse percentual diminui à medida que a população
aumenta. Em cidades com população entre 10 mil
e 20 mil ele chega a 19% e cai para 8% nas maiores cidades,
onde vivem mais de 500 mil pessoas.
Bárbara Cobo, do Departamento de População
e Indicadores Sociais do IBGE, explica que a presença
de crianças em famílias com pouca renda e escolaridade
coloca o domicílio numa situação de vulnerabilidade.
"Essas crianças estão em idade escolar
e ainda são dependentes de pais com baixíssimo
rendimento e pouca escolaridade", afirma ela.
Para a representante do Unicef no Brasil, Marie-Pierre Poirier,
os dados do IBGE ajudam a entender melhor a situação
de pobreza de famílias com crianças. "A
pobreza no Brasil tem cara de criança, e de criança
do semi-árido. Os dados mostram que há muita
iniqüidade quando são comparados municípios
pequenos e rurais com áreas urbanas", diz Poirier.
Outro aspecto levantado pela representante do Unicef no Brasil
é que a baixa escolaridade das famílias é
um fator de risco para as crianças. "Sabemos que
filhos de mães sem instrução têm
três vezes mais possibilidade de não completar
um ano. As famílias mais pobres também têm
menos acesso a serviços básicos por meio de
políticas públicas", diz Poirier.
ANTÔNIO GOIS
do jornal Folha de S. Paulo, sucursal do Rio
|