Na década
em que a população do país cresceu a
uma taxa de 1,6% ao ano, mais de um quarto (27,2%) dos 5.507
municípios brasileiros seguiram tendência contrária
e perderam moradores entre 1991 e 2000, indica a publicação
"Tendências Demográficas", divulgada
ontem pelo IBGE.
A análise do perfil dessas cidades que perderam população
no período entre os Censos 1991 e 2000 mostra que a
população brasileira migrou na década
de 90 em busca de municípios com melhores indicadores
sociais.
A taxa média de analfabetismo das 1.496 cidades que
perderam população era de 23,6%, quase o dobro
da taxa de 12,3% verificada em 2000 entre as cidades que mais
cresceram -ou seja, tiveram um crescimento anual de sua população
superior a 3%.
Os indicadores de mortalidade infantil também deixam
claro que a população migrou para cidades com
indicadores sociais melhores. Entre os municípios com
queda populacional, a taxa era de 36,4 mortos antes de um
ano de idade por mil nascidos vivos. Nos municípios
que mais cresceram, essa taxa era de 27,8 por mil.
O único indicador que não segue essa tendência
de ser pior nas cidades que tiveram perda populacional é
o de emprego. Nesses municípios, a taxa foi de 11%
da população economicamente ativa, inferior
à taxa de 16,9% verificada nas cidades que cresceram
a um ritmo maior que 3% ao ano.
Há duas explicações para essa suposta
contradição. A primeira é que a taxa
de desocupação nas cidades que mais cresceram
é maior justamente porque há mais migração
para essas cidades, ou seja, mais gente procurando emprego
onde há mais oferta.
A segunda explicação é que o desemprego,
sozinho, não motiva a migração. Apesar
de a taxa de desemprego ser inferior nas cidades que perderam
população na década de 90, o rendimento
do trabalho é muito menor. Em média, 46,5% da
população desses municípios ganhava menos
do que um salário mínimo por mês. Nas
cidades com maior crescimento, essa proporção
diminui para 21,8%.
Na avaliação da gerente de Projetos de Análises
Estruturais e Espaciais de População do IBGE,
Nilza Pereira, os dados mostram que o principal motivo da
migração foi a busca de melhores condições
de vida. "Não é só pela falta de
emprego. Em outras cidades, essa população poderá
ter mais acesso a serviços de saúde, educação
e outros prestados pelo Estado. Os municípios que perderam
população têm, em geral, piores indicadores
sociais. A rede de abastecimento, de saneamento básico
ou de coleta de lixo, por exemplo, é menos abrangente."
Entre as cidades que perderam população na década
estão algumas importantes pelo seu tamanho, como São
Caetano do Sul (SP), Ilhéus (BA), Nilópolis
(RJ) e Teófilo Otoni (MG).
A que mais perdeu, Campos Verdes (GO), contesta o dado, considerado
desatualizado. O prefeito Haroldo Naves Soares (PSDB) diz
que a população atual é maior do que
os 8.057 usados pelo IBGE no cálculo. Segundo ele,
esse é o dado de 2000 -em 1991, havia 16.648 moradores.
Os municípios que mais ganharam população,
em termos proporcionais, estão principalmente no Norte
e no Centro-Oeste. A capital que mais se expandiu, por exemplo,
é Palmas. Isso ocorreu porque essas regiões
passaram a atrair mais migrantes (principalmente do Nordeste),
mas é preciso considerar que a população
dessas cidades, principalmente em Estados como Rondônia
ou Roraima, era pequena em 1991. Em termos proporcionais,
o crescimento é elevado também pois a base de
comparação é reduzida.
Para Pereira, a mancha de cidades com alto crescimento demográfico
é quase a mesma do arco do desmatamento, das cidades
próximas à Floresta Amazônica.
ANTÔNIO GOIS
da Folha de S. Paulo
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