Depois
do acarajé, a capoeira. O Ipac (Instituto do Patrimônio
Artístico e Cultural) da Bahia publicou no "Diário
Oficial" do Estado notificação pública
-o primeiro passo- para transformar a capoeira em patrimônio
imaterial (manifestação artística que
exerce forte influência sobre a cultura).
De acordo com a Libac (Liga Baiana de Capoeira), o tombamento
da arte legaliza o ofício de "professor"
ou "mestre" de capoeira sem a necessidade de graduação
em educação física.
"A idéia de registrar a capoeira como patrimônio
é conseqüência dos problemas que os mestres
enfrentavam com os conselhos regionais de educação
física. Além disso, o tombamento vai preservar
a capoeira como patrimônio nacional", disse Carlos
Ferreira da Silva Filho, diretor da Libac.
Segundo Filho, as exigências dos conselhos servem apenas
para garantir "uma reserva de mercado". "Não
temos nada contra os estudantes de educação
física, mas entendemos de capoeira mais do que ninguém."
O presidente do Conselho Regional de Educação
Física da Bahia, Carlos Pimentel, disse que mestres
de capoeira não têm o direito de utilizar a arte
como atividade física. "Os nossos fiscais nunca
foram fiscalizar as rodas de capoeira em qualquer lugar de
Salvador, pois entendemos que isso é uma manifestação
cultural. Mas, por outro lado, não podemos admitir
que as pessoas ganhem dinheiro e utilizem a capoeira como
forma de condicionamento físico nas academias."
Os técnicos do Ipac ainda vão percorrer um longo
caminho antes de a capoeira ser tombada como bem imaterial.
A partir do início do próximo ano, os funcionários
começam a preparar um relatório baseado em documentos
e entrevistas feitas com os mestres.
O documento será analisado pela Câmara de Patrimônio
do Conselho Estadual de Cultura. Depois que todas as etapas
estabelecidas pela legislação forem cumpridas,
a capoeira ganha um registro definitivo de tombamento. "Queremos
preservar a capoeira como bem cultural e nada mais",
disse Júlio Braga, diretor do Ipac.
LUIZ FRANCISCO
da Folha de S. Paulo, em Salvador
|