A economia
brasileira encolheu no ano passado, mas a carga tributária
aumentou. Estudo divulgado ontem pelo IBPT (Instituto Brasileiro
de Planejamento Tributário) mostra que as empresas
e pessoas físicas pagaram R$ 64,62 bilhões a
mais de impostos no ano passado em relação a
2002.
Os números do IBPT contrariam as previsões
do ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, que afirmou,
diversas vezes no ano passado e neste ano, que a carga tributária
não cresceria no primeiro ano do mandato do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva.
O secretário da Receita Federal, Jorge Rachid, disse
ontem que não é possível calcular a carga
tributária de 2003 sem o valor nominal do PIB (Produto
Interno Bruto, conjunto das riquezas produzidas pelo país
durante um ano). Na semana passada, o IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística) divulgou que o PIB caiu
0,2% em relação a 2002, mas seu valor em reais
só deverá ser divulgado no final deste mês.
"Antes disso, calcular a carga [tributária] é
especulação", disse Rachid. De qualquer
forma, mesmo após a divulgação do IBGE,
o secretário-executivo do ministério da Fazenda,
Bernard Appy, disse à Folha que o governo continua
acreditando em queda da carga em relação a 2002.
Segundo o secretário, "para não misturar
laranjas com bananas" é preciso esperar a divulgação
do PIB. A carga tributária que será calculada
pela Receita só será divulgada em abril ou maio.
Mas Rachid afirmou que é necessário "quebrar
paradigmas" entre carga tributária e arrecadação.
"Se os contribuintes em atraso quiserem todos pagar em
dia seus débitos, a carga vai subir. E o que o governo
tem a ver com isso?". Segundo o secretário, o
compromisso do governo é não aumentar a "pressão
fiscal".
Em 2003, R$ 546,97 bi
Pelos dados do IBPT, os contribuintes brasileiros pagaram
aos governos federal, estaduais e municipais a soma de R$
546,97 bilhões no ano passado (R$ 482,36 bilhões
em 2002). Esse valor indica que a carga sobre o PIB cresceu
0,23 ponto percentual em 2003 em relação a 2002.
Com base nesse aumento, a carga tributária do ano passado
será de 36,68% do PIB -estava em 36,45% em 2002.
Segundo o tributarista Gilberto Luiz do Amaral, presidente
do IBPT e um dos autores do estudo, o percentual de 36,68%
ainda poderá ser alterado. Ele explica que esse índice
foi obtido com base na comparação da arrecadação
total em 2002 em relação ao PIB de R$ 1,321
trilhão divulgado pelo IBGE no início de 2003.
Ocorre que, em dezembro, o IBGE aumentou o valor do PIB para
R$ 1,346 trilhão. Isso fez com que a carga tributária
de 2003 ficasse em 35,84%. Se o 0,23 ponto for acrescido a
esse índice, a carga tributária de 2003 ficará
em 36,07%.
De qualquer maneira, independentemente do valor a ser usado
pelo IBGE como base de comparação para mostrar
a queda de 0,2% do PIB em 2003 (se R$ 1,321 trilhão
ou R$ 1,346 trilhão), Amaral afirma que não
há dúvida: a carga tributária no país
aumenta 0,23 ponto em 2003.
MARCOS CÉZARI
da Folha de S. Paulo
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