BRASÍLIA.
O Brasil é citado nas primeiras páginas do novo
relatório do Conselho Internacional de Controle de
Narcóticos, órgão das Nações
Unidas, como um exemplo da violência causada pelas drogas.
Segundo o documento, boa parte dos 30 mil assassinatos que
ocorrem por ano no país está relacionada ao
tráfico ou ao uso de drogas. “A violência
relacionada com as drogas é um desafio nacional particularmente
sério, que tem um grande impacto nas comunidades”,
diz o relatório.
O trabalho do conselho indica que tem aumentado o número
de países que adotam a pena de morte para punir o tráfico,
o que não é recomendado pela entidade. Em 1985,
eram 22. Em 2000, 34, sendo dez na Ásia.
Meninos de rua
Ao se referir à situação do Brasil, o
documento diz que meninos de rua, usados como aviões
do tráfico, são vítimas constantes. Seja
porque sabem demais, porque roubam ou porque são atingidos
pelo fogo cruzado de traficantes. São exemplo das conseqüências
das drogas nas comunidades.
"A situação no Brasil é a que se
encontra em muitas grandes cidades, na África e na
Ásia. É um fenômeno que não se
explorou muito até agora", disse o Giovanni Quaglia,
representante no Brasil do escritório das Nações
Unidas contra Drogas e Crime (UNODP).
O relatório, que será apresentado hoje no Palácio
do Planalto, analisa o que classifica de violência no
nível micro — causada pelo uso e tráfico
de drogas nas pequenas comunidades, onde as pessoas são
obrigadas a conviver com ameaças e mortes na porta
de casa.
Essa é a situação vivida nos países
mais pobres, que, mesmo não sendo os maiores consumidores
de drogas, são os que mais sofrem com a violência
diária relacionada ao tráfico. O círculo
vicioso que se forma nessas comunidades torna ainda mais difícil
a entrada do Estado. De acordo com o relatório, comunidades
com alto índice de desemprego, sem atendimento social,
lazer ou oportunidades, são as mais suscetíveis.
O resultado é o surgimento de uma economia paralela
cada vez mais difícil de erradicar, já que a
droga, de alguma forma, garante parte da economia da região.
"Não podemos analisar apenas pelo caminho da
pobreza. Lógico que o ideal seria não haver
favelas, não haver um ambiente que favoreça
a disseminação do tráfico. Mas temos
que lembrar que a maior parte das pessoas que vivem na pobreza
não está envolvida com o tráfico",
disse Quaglia.
Círculo do tráfico
Entrar nessas comunidades e oferecer às pessoas
meios de quebrar esse círculo é a receita apontada
pelo Conselho para melhorar essa situação. Um
dos projetos que o UNODP está fazendo no Brasil é
em parceria com a prefeitura do Rio para melhorar o atendimento
social nas favelas cariocas.
Quaglia revelou ainda outra preocupação em
relação ao Brasil: o aumento constante do consumo
de drogas. De um país de baixo consumo há cinco
anos, que servia basicamente como rota de passagem para o
tráfico internacional, hoje o Brasil já está
entre as nações que registram um consumo de
entorpecentes considerado médio.
"Esperamos que não continue essa tendência,
mas ninguém sabe quando esse crescimento vai parar",
disse o representante do UNODP.
LISANDRA PAGAGUASSÚ
do jornal O Globo
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