Os
dados da USP (Universidade de São Paulo) são
eloqüentes: entre seus estudantes, só 1,3% são
negros e 8,34% são pardos.
Ontem, segundo a Polícia Militar,
cerca de 450 manifestantes -a maioria pertencente à
ONG Educafro (Educação e Cidadania de Afrodescendentes
e Carentes)- ocuparam a praça do relógio na
USP para reivindicar a implementação de cotas
para negros.
Três faculdades da USP foram
ocupadas: a FEA (Faculdade de Economia e Administração),
a Escola Politécnica e a ECA (Escola de Comunicação
e Artes).
No percurso, a manifestação
promoveu discussões entre os estudantes de cada faculdade,
que apoiaram ou não a iniciativa.
Depois, 70 estudantes negros foram
acorrentados e passaram 70 minutos em frente ao prédio
da reitoria. "Isso porque o aniversário da USP
[comemorado neste ano] marca também os 70 anos de exclusão
do povo negro do ensino público superior", diz
Eduardo Pereira Neto, 41, coordenador do setor universitário
da Educafro.
"A proposta é pedir ao
reitor que implemente cotas para negros como já foi
feito na Universidade Estadual do Rio de Janeiro", diz
Heber Costa, 26, da Educafro.
Segundo Sonia Terezinha Penin, pró-reitora
de graduação da universidade, "o que está
em questão na universidade não é o sistema
de cotas, mas as ações afirmativas, não
só para grupos raciais mas também para os grupos
socioeconômicos desprivilegiados". Ela diz que
o acesso à universidade será discutido entre
abril e maio, e o Cruesp (conselho que reúne reitores
da USP, Unicamp e Unesp) já propôs ao Estado
a criação de um quarto ano opcional no ensino
médio, que serviria como preparatório ao vestibular,
com apoio das universidades públicas estaduais.
FERNANDA MENA
da Folha de S. Paulo
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