A simples convivência de classes sociais distintas tem reflexo positivo
no nível educacional de crianças e jovens pobres.
É o que mostra uma das pesquisas que fazem parte do
estudo "Metrópoles, Desigualdades Socioespaciais
e Governança Urbana".
Os pesquisadores cruzaram dados de estudantes de oito a 15
anos nas três maiores regiões metropolitanas
do país (São Paulo, Rio e Belo Horizonte) e
constataram que o percentual de atraso escolar é mais
baixo nos bairros em que há maior mistura de classes
sociais. Atraso escolar é a diferença entre
a idade que o aluno tem e a escolaridade que deveria ter.
Também constataram que as taxas de evasão escolar
(entre jovens de seis a 14 anos) e de jovens sem trabalho
e sem estudo (entre 17 e 24 anos) seguem o mesmo padrão
-são menores em bairros com mais mistura entre pobres
e ricos.
"De certa forma, quando há uma convivência
maior entre classes, os mais pobres conseguem romper um ciclo
que não é quebrado numa região essencialmente
carente e periférica. Há algum tipo de troca",
afirmou Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro, coordenador da pesquisa
e professor do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano
e Regional da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
O estudo sobre as metrópoles está sendo realizado
por cerca de 70 pesquisadores de 22 instituições.
A partir de dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística), o grupo criou metodologias próprias
para avaliar mudanças estruturais em 11 regiões
metropolitanas. A base do trabalho são as informações
sobre educação, habitação e renda.
Para o coordenador da pesquisa, "as metrópoles
aparecem não apenas como resultado de desigualdades,
mas como geradora de novas desigualdades".
Segundo Ribeiro, a exemplo do que ocorreu em países
europeus, a valorização do ensino público
é um dos caminhos para inverter esse quadro e promover
uma maior integração.
"A escola é o meio mais eficiente de promover
os conceitos de cidadania e direito. Daí a importância
da presença das camadas médias na rede pública
de ensino, para um aprendizado democrático."
Em São Paulo, a taxa de atraso escolar de crianças
e jovens pobres, em famílias cujos demais membros têm
média de até nove anos de estudo, é de
39% nas regiões de classe baixa, de 32% nas áreas
de classe média alta e de 37% nas regiões de
classe alta. Isso nas famílias em que os pais são
casados -quando são separados, o desempenho dos filhos
piora.
No Rio, esses índices são de 64%, 55% e 60%,
respectivamente, e em Belo Horizonte, de 49%, 43% e 44%.
Por enquanto, a pesquisa só finalizou os dados de
educação em relação à classe
social nas três maiores metrópoles. Com relação
a outros temas, já há informações
sobre as demais áreas. Belém, por exemplo, lidera
o ranking de déficit e inadequação habitacional
no Brasil (leia texto na página C3).
Morar num bairro pobre também interfere no salário
dos seus moradores. O estudo mostrou que as diferenças
de renda entre moradores de favelas e de bairros podem superar
70%, mesmo entre trabalhadores com a mesma escolaridade.
Entre pessoas com mais de 15 anos de estudo, a diferença
salarial chega a 73% em São Paulo, 64% no Rio de Janeiro
e 65% em Goiânia.
ADRIANA CHAVES
da Agência Folha, no Rio
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